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Para adular Bolsonaro, o candidato João Roma maltratou a História

Ao definir o deputado condenado pelo STF como "novo" Tiradentes, o candidato ao governo da Bahia patinou no palanque como um amador

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 abr 2022, 08h00

Comício é operação de risco, aprendeu Fernando Henrique Cardoso num palanque no interior da Paraíba na campanha presidencial de 1994.

Saía do anonimato eleitoral para o reconhecimento público como “pai” do Plano Real, rapidamente empatando com Lula, que decidira apostar no naufrágio do controle da inflação — deu errado, FHC ganhou no primeiro turno.

No palanque paraibano, sondava o público apresentando sua história. Lembrou a prisão no período da ditadura e a imposição da aposentadoria precoce na Universidade de São Paulo. “Fui preso e perdi minha cátedra”, discursou. Assessores o aconselhar a não repetir a ingênua frase.

Comício pode aprisionar candidatos no próprio ardil.

Em 1962, depois de renunciar à Presidência da República, Jânio Quadros resolveu disputar o governo de São Paulo contra Adhemar de Barros que, como ele, já havia sido prefeito da capital e governador.

Jânio usava a tática de “sangrar” o adversário com acusações de corrupção. Adhemar retrucava com as demonstrações de “loucura” do ex-presidente que renunciara alegando “forças ocultas”.

Coincidência ou não, ambos marcaram comícios em datas consecutivas numa mesma praça em Mogi Guaçu, na região metropolitana.

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Adhemar foi primeiro. E atacou: “Construí um hospital psiquiátrico mas, infelizmente, não foi possível internar todos os loucos. Um deles escapou e virá aqui, amanhã, fazer um comício nesta praça.”

No dia seguinte, Jânio respondeu: “Construí várias penitenciárias quando fui governador, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um deles fugiu e fez um comício ontem, aqui mesmo nesta praça.”

O risco cresce na proporção do fascínio do político pela própria voz, o que é frequente com iniciantes.

Aconteceu na sexta-feira, em Porto Seguro, com o candidato ao governo da Bahia João Roma, do Partido Republicanos, ex-ministro da Cidadania de Jair Bolsonaro.

Roma batalha para ser reconhecido pelos baianos como competitivo numa disputa estrelada pelo seu antigo chefe, o ex-prefeito de Salvador Antonio Carlos Magalhães Neto, e pelo candidato do PT, Jerônimo Rodrigues. É um deputado de 84 mil votos brigando contra grupos locais que detêm o poder há quase meio século.

Para elogiar o atual chefe, Bolsonaro, Roma, que é formado em Direito, resolveu torturar História: “Ontem, no [dia] 21 de abril deste ano, teve mais um episódio na História da nossa República: Bolsonaro salvou da forca o novo Tiradentes do Brasil.”

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Ele se referia ao deputado Daniel Silveira, ex-policial militar dispensado do serviço na PM carioca depois se seis anos marcados por 66 delitos, e agora condenado a oito anos e nove meses de prisão por crime contra o regime democrático e coação durante o processo judicial, como ameaças à vida dos juízes do Supremo e de seus familiares.

Joaquim José que também é da Silva Xavier foi preso, julgado e enforcado publicamente por liderar uma conspiração pela independência do Brasil do Brasil.

O candidato João Roma tem todo o direito de bajular seu chefe e quem mais quiser. Mas não pode falsificar a história do ativismo em Minas ou mesmo em Pernambuco, onde se destacou um dos seus ancestrais, o Padre Roma, preso e condenado à morte por liderar o movimento de 1817 que emulou a primeira proclamação da República.

Padre Roma era José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima na vida civil, pai do general Abreu e Lima, combatente das guerras de independência da América espanhola sob a liderança de Simon Bolívar.

Ao maltratar a História para adular chefe, João Roma patinou no palanque como um amador em busca de vaga no baixo clero da política.

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