O buraco aberto para a usina nuclear Angra III, em Angra dos Reis (RJ), está completando 37 anos. Nele já foram enterrados mais de US$ 2 bilhões, o equivalente a R$ 10,6 bilhões.
É um dos mais antigos empreendimentos públicos não concluídos — há outros 34 mil espalhados pelo país no censo anual feito pelo Tribunal de Contas da União.
Segundo o governo, 65% do projeto de construção estão prontos desde 2015. A estatal Eletronuclear, do grupo Eletrobras, planeja reiniciar as obras civis e a montagem eletromecânica ainda neste ano.
Sua aposta na inauguração da usina em 2026 é parte de um plano ambicioso para multiplicar por sete a atual capacidade de geração (1,9 GW), com reatores modulares e micros. De certa forma, ecoa o projeto nuclear autônomo da era Ernesto Geisel, na ditadura militar, que custou uma fábula e acabou enterrado. As perspectivas de financiamento dessa nova versão dependem, em parte, da competência da empresa em transformar o buraco de Angra III numa usina operacional.
Há três semanas a Eletronuclear promoveu uma licitação para conclusão das obras e montagem. Na aparência, foi um êxito financeiro: terminar o projeto vai custar US$ 40 milhões, ou R$ 212 milhões, ao caixa da estatal, um preço 16% abaixo do limite que se dispôs a pagar.
Os problemas começaram nos resultados, em contestações à suposta inexperiência do consórcio vencedor (Ferreira Guedes e Matricial, com a alemã ADtranz). Foram ampliados com a descoberta da repórter Tânia Malheiros sobre vínculos das empreiteiras nacionais com um desastre, o desabamento de um viaduto em Fortaleza, em 2016, além de envolvimento em investigações da Operação Lava Jato.
É novo capítulo no histórico do buraco de Angra III.