No governo ninguém se entende e todos se queixam de Lula
Do Palácio do Planalto ao Congresso, o único consenso é sobre como os resultados das urnas devem condicionar o rumo do governo na segunda metade do mandato
Rui Costa, chefe da Casa Civil, não se entende com Fernando Haddad, ministro da Fazenda, nem com Jaques Wagner, líder do governo no Senado. Haddad e Wagner divergem, mas convergem nas críticas a Costa.
Os três reclamam de Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, que se queixa do trio.
Arthur Lira, presidente da Câmara, escolheu Padilha como “desafeto”. Não tem simpatia por Wagner nem por Haddad e limita contatos com Costa ao estritamente necessário. Desconfia de Lula por causa das relações com o senador Renan Calheiros. Ambos se tratam como “inimigos” em Alagoas.
Lula se entende com todos, acerta decisões com cada um, mas todos se queixam de que ele costuma fazer o contrário daquilo que combina.
Esse é um retrato sintético do governo, ano e meio depois de iniciado, na visão de parlamentares governistas do PT, do Psol e do Centrão.
Acham que Lula é o nome (e a gênese) da crise, pela inapetência para administrar — o oposto do que acreditam ter acontecido nos dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010.
O mais grave, julgam, é Lula crer estar fazendo tudo certo quando os resultados são frágeis, e até contraditórios na economia, na saúde, na educação e na segurança pública.
A trapalhada na importação de arroz é percebida como simbólica porque mostrou a desordem governamental balizada pela marquetagem. Ao entregar o negócio milionário a uma sorveteria, uma loja de queijos e uma locadora, o governo criou confusão no mercado, não conseguiu importar nem entregar um único quilo de arroz barato, a preço tabelado, nas prateleiras dos supermercados.
Não há indícios de mudanças antes das eleições municipais, apesar das especulações sobre o desfecho de conflitos entre Rui Costa, Fernando Haddad e Jaques Wagner na próxima semana, quando Lula retorna de viagem ao exterior.
Do Palácio do Planalto ao Congresso, o único consenso é sobre como os resultados das urnas devem condicionar o rumo do governo na segunda metade do mandato.
Os planos de Lula para reeleição, por exemplo, dependem em boa medida do desempenho dos seus candidatos Guilherme Boulos e Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo.
A apuração em Salvador vai definir o embate entre Jaques Wagner e Rui Costa sobre a composição da chapa do PT baiano para o Senado e o governo estadual em 2026.
Faltam três meses e meio para o primeiro turno eleitoral. O problema de Lula é como atravessar essa eternidade política, em plena campanha, na resolução do governo a cada dia. Com o mínimo de eficiência necessário para mitigar as confusões no Congresso e evitar trapalhadas governamentais em série.