Quando não está mau-humorado, ele não sorri. Esse é o retrato de Rui Costa, 61 anos, baiano, chefe da Casa Civil da Presidência, traçado por alguns ministros.
Lula anunciou o discurso de Costa na reunião ministerial nesta segunda-feira (18/3): “É importante vocês prestarem atenção nos números que ele vai apresentar. Vocês vão perceber a surpresa para aqueles que não acreditam no que está acontecendo nesse país.”
Os ministros foram chamados ao Palácio do Planalto por causa da série de pesquisas que mostram um aumento na reprovação do governo e, também, um declínio na credibilidade do presidente entre eleitores.
Na sequência, o chefe da Casa Civil falou por quase uma hora sobre como “o Brasil está no rumo certo”. Listou resultados positivos em todos os ministérios, condensados num relatório de 48 páginas, repleto de gráficos.
O chefe da Casa Civil mostrou que está tudo certo e tudo vai bem na Esplanada dos Ministérios, desde o “cuidado das pessoas” até à “política externa ativa e altiva”.
Costa debulhava o relatório de “boas novas” — a definição é de Lula —, quando recebeu uma mensagem: “Mais entusiasmo”, recomendava o bilhete aparentemente escrito por seu chefe, enfadado como os demais à mesa.
Em outra intervenção, orientou o chefe da Casa Civil a ser mais ágil — para alguns mais cordial — no trato com os outros 38 ministros, que se queixam do silêncio de Costa, entre outras coisas, na resposta às urgências cotidianas.
Lula lembrou a lentidão da Casa Civil em coordenar com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a reação governamental à epidemia de dengue e à crise nos seis hospitais federais do Rio, que ele disse ter sido agravada nos quatro anos de influência direta do clã Bolsonaro sobre a gestão de pessoas, de materiais e do caixa dessas unidades especializadas de saúde pública.
Costa esboçou um sorriso, notaram alguns dos ministros. E avançou em elogio indireto ao chefe com um destaque da sua política externa “ativa e altiva”, que assim resumiu: “Contatos do PR [presidente da República] com chefes de estado/governo de 62 países, incluindo visitas bilaterais a 22 países e às sedes da União Europeia, da União Africana e da Liga dos Estados Árabes.”
Se a paisagem vista da bolha governista diverge da realidade de insatisfação retratada pelos eleitores nas pesquisas, o problema é do eleitorado. Possivelmente, arriscou Lula, o governo careça de “transversalidade” na contestação aos críticos, sobretudo nas redes sociais, onde ele supõe que o governo esteja “perdendo a guerra”.
Pode-se dizer que foi um momento íntimo do governo: por cinco horas, falou-se bem do governo Lula para o próprio Lula.
Ao anoitecer, tudo mudou, como é habitual em Brasília. Depois da reunião, ministros não economizaram críticas a outros ministros, ao governo em geral e ao chefe em particular, que, segundo eles, só escuta os áulicos do palácio e é o principal responsável pelas crises fomentadas no próprio governo na execução da política social, econômica e externa.
Há consenso sobre uma inevitável reforma ministerial depois das eleições municipais. Até lá, todos estão obrigados à convivência em “harmonia”, inclusive com o chefe da Casa Civil, aquele que não sorri mesmo quando não está de mau-humor.