O tumulto provocado na vida dos moradores de São Paulo, nesta terça-feira (3/10), é evidência da exaustão de um modo de fazer política.
Todos perderam, porque os governos estadual e municipal, a oposição, os partidos, os sindicatos e também o Judiciário foram exuberantes na incompetência para resolver um conflito de teses sobre a permanência do Estado no controle de serviços públicos essenciais, como transportes e saneamento.
Juntos, conduziram a cidade ao caos, numa reprise de jogo de político mofado, cujo epílogo é sempre o mesmo: a população fica refém, com seus direitos básicos atropelados, e os mais pobres, mais dependentes dos serviços estatais, chegam ao final do dia muito mais prejudicados.
À distância das filas intermináveis nos pontos de ônibus, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) repetia-se: “Ano que vem vamos ter eleições e está muito clara a motivação deles [Psol, PT, PCdoB e sindicatos satélites]. Como vamos ter um prefeito que não dialoga com o governo?”
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, ecoou: “Esse é o Psol, o partido do caos”.
O Psol controla parte do aparato sindical dos metroviários, cuja presidente, Camila Lisboa, derramou eloquência: “Essa greve tem uma motivação trabalhista também. Mas não só.”
Sujeito oculto da balbúrdia política, Guilherme Boulos, candidato do Psol à prefeitura paulistana, estava a 1,5 mil quilômetros da agonia dos eleitores. Participava de votações no plenário refrigerado da Câmara, em Brasília.
Prisioneiros em seus labirintos político-eleitorais, Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes, Camila Lisboa e Guilherme Boulos atravessaram o dia decretando as respectivas vitórias. Pareciam zumbis do mundo do Conde de Gobineau, diplomata francês que serviu no Rio no século XIX. Ele achava que o Brasil não passava de uma abstração política — um país sem povo.