Jair Bolsonaro começou este fim de semana com duas grandes derrotas no curto espaço de 15 horas.
Na noite de sexta-feira, às 21h40, assistiu um antigo aliado, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), conduzi-lo ao centro da investigação da CPI da Pandemia sobre um bilionário e obscuro contrato do Ministério da Saúde para compra da vacina indiana Covaxin.
Miranda contou que Bolsonaro sabia das suspeitas há três meses, mas nada fez. Deixou-o exposto à acusação de omissão na gestão pública, por interesse ou má-fé. E, também, de crime de responsabilidade.
Foi além: em público, o deputado do Centrão de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, converteu Bolsonaro em delator do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Na sua versão, Bolsonaro acusou Barros de liderar o lobby na Saúde para o estranho negócio da vacina indiana — com corretagem privada nacional e a preço 1.000% maior do que havia sido anunciado seis meses antes pela própria fabricante.
Na manhã de sábado, antes do almoço, Bolsonaro fazia um novo comício em Chapecó (SC), enquanto líderes de onze partidos participavam de uma reunião virtual.
A conversa terminou com o compromisso coletivo de veto a mudanças no sistema eleitoral para retroceder à era do voto impresso — iniciativa à qual Bolsonaro tem dedicado tempo e energia de forma surpreendente para um chefe de governo atolado no descontrole da pandemia de Covid-19.
Esses onze partidos (PSDB, MDB, PP, DEM, Solidariedade, PL, PSL, Cidadania, Republicanos, PSD e Avante) controlam 63% dos votos na Câmara e 67% no Senado. Sem eles, não há hipótese de aprovação de qualquer projeto de emenda constitucional, como é o caso do voto impresso apresentado na Câmara por encomenda de Bolsonaro.
No conjunto, os onze compõem um bloco majoritário que pode ser chamado de centro, alguns estão mais à direita outros mais à esquerda. Abriga aliados de Bolsonaro, como a locomotiva do Centrão, o PP, e também adversários como PSDB, PSD e Cidadania. Sua heterogeneidade pode ser aferida nas votações legislativas dos últimos 30 meses.
Em pelo menos um aspecto, porém, a reunião transcendeu o anúncio de uma grande derrota para Bolsonaro na tentativa de impor um retrocesso ao voto impresso, o que poderia tumultuar o processo eleitoral do próximo ano.
Na crise, eles se uniram para impedir o que enxergam como ameaça à estabilidade política, vital à sobrevivência dos próprios partidos e do sistema eleitoral existente.
Foi uma apenas conversa de sábado, demonstração de união e de força dos líderes da maioria parlamentar em momento e evento específico. Mas, é bom lembrar a política é feita símbolos, e nada impede que prossigam, em busca da saída para o labirinto da polarização no qual se deixaram aprisionar.