Bolsonaro evita a crise econômica, mas eleitores culpam governo
Candidato foge de temas vitais para os eleitores, como o aumento do custo de vida. Até agora, não se sabe o que planeja para resgatar o país da crise
O gás de cozinha virou produto de luxo em cidades do Acre: o botijão de 13 quilos custa R$ 150 e já representa 16% da renda média das famílias do Estado.
Os residentes no Acre empobreceram nos últimos dois anos, como os demais brasileiros. A renda individual diminuiu no ano passado. Ficou em R$ 888, uma queda de 3,1% em relação aos R$ 917 na média de 2020, informa o IBGE.
É um dos 14 estados onde a remuneração média dos indivíduos que vivem numa mesma casa não alcança o valor do salário mínimo nacional (R$ 1.212). No Acre, ganha-se um terço menos.
A cinco meses da eleição presidencial, o país está mais pobre e mais desigual do que no outono da temporada eleitoral de 2018.
Retrato do empobrecimento está no Pix, o sistema de pagamentos em tempo real construído pelo governo que já é usado por 115 milhões de pessoas e abrange oito de cada dez transações financeiras diárias. O valor médio do Pix caiu cerca de 10% nos últimos seis meses, para R$ 471, segundo o Banco Central.
É ruim o cenário traçado pelo eleitorado em pesquisas como a do Instituto FSB para o banco BTG, feita entre sexta-feira e domingo passado.
Nela, seis em cada dez dizem acreditar que a vida vai ficar ainda mais cara. Quatro deles se preocupam com a incapacidade de sustentar o atual padrão de vida. Preveem aumento no endividamento pessoal e atrasos no pagamento de contas.
O país vive uma crise, e são evidentes as dificuldades para superá-la, julga a ampla maioria (62%). E quatro em cada dez culpam diretamente o governo Jair Bolsonaro pelas aflições no bolso.
O candidato à reeleição, porém, mantém a crise fora da sua agenda pública. Finge que não é com ele e passa o tempo tentando mudar de assunto. Ontem, por exemplo, gastou o dia entretido em novos capítulos da guerra particular com o Judiciário — meses atrás esgrimia contra o espectro do comunismo, sepultado há mais de três décadas.
Ele recebeu representantes da Meta, empresa americana, para pressioná-los a mudar a tecnologia do aplicativo WhatsApp antes das eleições. Fracassou, obviamente. Depois, recebeu um representante da agência estatal responsável pela vigilância do mercado de informações digitais.
Na sequência, fez um comício dentro do Palácio do Planalto, transmitido pelo canal público TV Brasil como “ato cívico”. Em discurso, mais uma vez, ofendeu integrantes do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Levantou a hipótese de suspensão das eleições em raciocínio tortuoso sobre a possibilidade de algo “anormal” acontecer, e sugeriu um novo papel para as Forças Armadas, na contabilidade paralela das urnas.
Bolsonaro é um candidato em fuga de temas relevantes para os eleitores, como os efeitos do aumento do custo de vida, da inflação da energia e dos alimentos que consomem mais de 60% do orçamento das famílias mais pobres.
Em 2018 prometeu botijão de gás de cozinha a R$ 35. Está 328% mais caro. Até agora, não se sabe o que ele pensa ou pretende fazer para “indultar” os empobrecidos pela grave crise econômica, na qual suas digitais são reconhecidas.
O problema de Bolsonaro é que eleitor costuma votar com o bolso — na saúde ou na pandemia, na calmaria ou na tempestade inflacionária.