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Como o governo do México fez dobrar a fortuna do bilionário Carlos Slim

Dificilmente haverá alguém mais saudoso do presidente López Obrador do que o homem mais rico da América Latina: são bilhões de motivos para nostalgia

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 out 2024, 08h00
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  • Na tarde desta terça-feira (1/10) termina o ciclo de Andrés Manuel López Obrador no poder. No México, depois de seis anos  presidentes costumam ir para casa com rarefeita influência política.

    Esse não é, claramente, o roteiro escolhido por López Obrador. Ele ajudou a eleger a sucessora, Claudia Sheibaum (60% dos votos), a quem trata como “hermana”, indicou-lhe alguns dos seus mais fiéis assessores e ainda nomeou os líderes da bancada governista na Câmara e no Senado.

    O empenho em se manter onipresente dá a medida da nostalgia do mando e, também, do receio com o ativismo dos velhos e novos adversários.

    Dificilmente haverá alguém mais saudoso de López Obrador do que o homem mais rico da América Latina, listado entre os dez mais do mundo, o empresário mexicano Carlos Slim.

    A fortuna de Slim aumentou nada menos que 82% no governo que se encerra. Subiu de 49 bilhões de dólares seis anos atrás, no final da presidência de Enrique Peña Nieto, para 89 bilhões de dólares no epílogo da era López Obrador.

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    Peña Nieto é um político emoldurado na “direita”, como todos os caciques do Partido Revolucionário Institucional (PRI) que governou o México por 71 anos seguidos (1929-2000). López Obrador ganhou o rótulo “de esquerda” desde que se tornou um dissidente do PRI e, em 2011, ajudou a criar o Movimento de Regeneração Nacional (Morena) pelo qual se elegeu presidente.

    Com López Obrador, o empresário Slim teve ajuda providencial da “mão invisível” que fez duplicar os preços das ações de suas empresas, principalmente em negócios de engenharia e construção civil.

    Caso exemplar é o da Carso (acrônimo de Carlos Slim e a esposa Soumaya), cujos títulos na Bolsa Mexicana de Valores valorizaram 98,65% nos últimos seis anos, calculou Jacobo Rodríguez, da consultoria Roga Capital, para o repórter Sebastián Díaz Mora, do El Economista: “Foi uma empresa beneficiada pelos projetos de infraestrutura, isso se traduziu em mais receitas e maiores lucros.”

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    O legado político de López Obrador é pouco menos controverso do que sua herança econômica para Claudia Sheinbaum, nova presidente da República.

    Engenheira reconhecida em pesquisas, é de família judia refugiada do Holocausto, com mãe bióloga, pai engenheiro químico, irmão e marido físicos. Ela uniu a ação política com a curiosidade científica nas áreas de energia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Publicou mais de uma centena de livros sobre esses temas e pôs em marcha, com êxito, projetos inovadores como o da redução da poluição na Cidade do México: prefeita, plantou 15 milhões de árvores e mudou o sistema de transportes, com ênfase nas áreas mais pobres da capital mexicana.

    Aos 62 anos, ganhou a presidência da República defendendo propostas para a transição da economia do petróleo para a de energia renovável, com mudanças na gestão estatal das reservas de água (“estão acabando no México”), e, programas para redução da violência doméstica que afeta, principalmente, a vida das mexicanas.

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    Sheinbaum é uma das mulheres em ascensão na política do continente, como Kamala Harris, nos Estados Unidos, e María Corina Machado, na Venezuela. As três partilham uma peculiaridade biográfica: atropelaram todos os homens que cometeram o erro de subestimá-las.

    Nada indica, por enquanto, que ela vá rasgar a lista de compromissos assumidos por López Obrador. Mas o complexo cenário político e econômico do México sugere que, provavelmente, o empresário Slim terá bilhões de motivos para saudades: nunca um presidente foi tão generoso quanto López Obrador.

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