Jair Bolsonaro vai partir. O destino previsto é Orlando, cidade central da Flórida, nos Estados Unidos.
Resolveu passear nas últimas 72 horas do mandato. É presidente até o réveillon. A partir de domingo 1º de janeiro será um brasileiro de 67 anos com a memória do fracasso em se manter no poder e o futuro incerto nos tribunais — alguns processos judiciais foram iniciados, outros estão em análise.
Bolsonaro escolheu sair do país para eternizar a imagem da sua ausência num rito simbólico da democracia, o da passagem da faixa presidencial ao sucessor eleito, Lula.
De modo peculiar, reafirma sua principal contribuição à vida nacional nas últimas três décadas: a manipulação do ódio como modo de fazer política.
A escapada para Orlando, centro de parques temáticos onde reluzem personagens míticos dos Estúdios Disney como o Pateta, vai custar caro ao bolso dos brasileiros.
A última mordomia de Bolsonaro tem orçamento inicial superior a 3,2 milhões de reais. O custo para os cofres públicos supera 1 milhão de reais por dia, ou ainda mais de 41,6 mil por cada uma das 72 horas do final do mandato.
A conta é do próprio governo. Inclui o uso, abastecimento e estacionamento de dois aviões da Presidência da República. Um deles leva seguranças, bagagem e equipamentos de segurança e tem pouso previsto para mais tarde em Orlando. Outro está com saída de Brasília marcada para amanhã, com Bolsonaro e comitiva.
Para o passeio presidencial de três serão alugados seis veículos: dois carros tipo sedan, com motorista; três minivans de oito lugares, com motorista; uma van de doze poltronas, também com motorista; e, um furgão sem bancos, para transporte de bagagem de passageiros e da tripulação. O gasto estimado em veículos é de cerca de 540 mil reais.
Pela programação, a partir de domingo Bolsonaro vai se hospedar em casa emprestada por um empresário no condomínio Parkside. Como ex-presidente terá direito à companhia de oito funcionários pagos pelo Tesouro Nacional pelo resto da vida. Pelas regras funcionais, os demais servidores que o acompanham na ida à Flórida devem retornar ao país no domingo.
Até à noite de terça-feira (27) era incerto o tamanho da comitiva. Uma pista está na lista de exigências às locadoras de carros e hotéis apresentada pela vice-cônsul em Orlando, Marcela Braga, uma antiga assistente da primeira-dama Michelle. É possível que um séquito de 38 pessoas acompanhe Bolsonaro nessa breve, milionária e insólita cerimônia do adeus numa das cidades americanas que mais faturam com a indústria de fantasias, inclusive as políticas.