Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

Brasil dividido

Está cada vez mais estreita a margem de erro do próximo governo

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h55 - Publicado em 30 set 2022, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O país está mais dividido, fragmentado nas expectativas sobre as mudanças necessárias no padrão de vida nacional. A tradição de consenso se desvanece na sociedade enclausurada em longo ciclo de baixo crescimento econômico e de aumento contínuo nas desigualdades.

    Sete de cada dez brasileiros se tornaram adultos a partir da Constituição de 1988, que completa 34 anos nesta quarta-feira, 5. Não viveram, mas estudaram, leram ou ouviram falar de um Brasil que foi caso de sucesso no mundo na maior parte dos dois séculos de independência.

    A paisagem ao redor é eloquente sobre a dimensão do impasse: uma de cada três famílias sobrevive com 497 reais por mês — informa a FGV-Social com base em dados coletados pelo IBGE. Ou seja, a nova pobreza brasileira inclui 62 milhões de pessoas com renda de cerca de 40% do salário mínimo (1 212 reais).

    Boa notícia nesta primavera eleitoral é a cristalização da rebeldia contra tentativas de um amálgama institucional do atraso com o tradicionalismo. É notável que o medo do futuro tenha impulsionado o voto, de forma inédita, enquanto parte dos candidatos atravessava a campanha com medo da resenha pública sobre seu passado.

    O cenário político conflitivo não deve se dissipar tão cedo. Tende a ser a principal condicionante das decisões no governo e no Congresso a partir do verão. Nutre-se no empobrecimento geral, na insegurança alimentar da maioria, no aumento da violência nas cidades e em áreas onde economia do crime floresce no vácuo do Estado brasileiro.

    A Amazônia, por exemplo, concentra 23% dos municípios onde mais se mata. São cidades pequenas, com menos de 100 000 habitantes, dominadas pelo banditismo apoiado em redes de interesses locais, hierarquizadas e conectadas ao mercado financeiro, responsável pelo ciclo da lavagem de dinheiro, a legalização dos lucros do tráfico de drogas, de terras, de madeira, de animais e de minerais — ouro, diamante, cassiterita, urânio e manganês, entre outros.

    Continua após a publicidade

    “Está cada vez mais estreita a margem de erro do próximo governo”

    A Amazônia se estende por mais da metade (59%) do mapa nacional e abriga treze de cada 100 brasileiros. No entanto, foi abduzida na disputa presidencial, assim como a saúde, a educação, a segurança pública e a política econômica, temas essenciais à vida em sociedade.

    De um lado, acenou-se com mais do mesmo, a persistência no método errático de governo entre a impossibilidade política e a incapacidade administrativa. De outro, exibiu-se um deserto de ideias sobre o futuro, com omissões deliberadas e justificadas até como “tática” de campanha. Disso resultaram situações inusitadas, como o anúncio de retirada de propostas de governo desconhecidas e até sigilo sobre um programa econômico jamais divulgado.

    Os brasileiros se destacam pelo ceticismo, mostra a sondagem anual que o grupo Edelman realiza em 28 países há duas décadas. Apenas 35% consideram o governo capaz de coordenar esforços entre instituições para resolver crises.

    Entre o caos pandêmico e a retórica golpista, a maioria (59%) passou a ver no governo uma “força desagregadora”. Reflete o tamanho do fiasco da coalizão capitaneada pela extrema direita nas urnas de 2018: jogou pela janela chance ímpar de fazer um governo competente.

    Continua após a publicidade

    A oposição, curiosamente, refugiou-se na dicotomia do “bem” contra o “mal”. Atravessou mais de um ano na liderança das pesquisas estimulando voto contra um governo e não a favor de um projeto para o país, que segue desconhecido. Limitou-se a prometer um futuro de volta ao passado, que julga esplendoroso.

    A realidade é dissonante. O divisionismo consolidado na campanha só agrava a cacofonia num sistema de representação política asfixiado pelo corporativismo anárquico, que se move no governo e no Congresso exclusivamente em torno de privilégios no Orçamento público.

    Além disso, a eleição termina num panorama de situação econômica externa nada favorável, com sobra de previsões de recessão em 2023 e em meio a uma guerra europeia de sequelas imprevisíveis. Se confirmado o recesso global, naturalmente vai afetar o caixa do país, dependente (cerca de 40%) das vendas de produtos minerais e agropecuários.

    Está cada vez mais estreita a margem de erro do próximo governo. Olhando-se ao redor, na América do Sul, pode-se verificar uma tendência à queda rápida nos níveis de aprovação dos presidentes empossados não faz muito tempo (Chile, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Argentina, por exemplo). Única certeza possível sobre o que virá a partir de janeiro é: não vai ser fácil.

    Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 5 de outubro de 2022, edição nº 2809

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.