O número do partido é 51. Ontem de manhã, parecia uma boa ideia. Na ressaca da noite, já se transformara no mais novo estorvo no projeto de reeleição de Jair Bolsonaro.
O senador Flavio Bolsonaro (RJ) migrou do partido Republicanos para o Patriota (número 51 na Justiça Eleitoral) e anunciou o possível ingresso do pai presidente-candidato.
Confirmou em redes sociais com fotografia da ficha de filiação, exibida com auxílio do advogado Adilson Barroso, presidente do Patriota.
Por trás da imagem havia uma história, e seus detalhes estão em processo apresentado no fim da tarde de domingo na Justiça Eleitoral. Nele, o advogado Barroso é acusado de dar um golpe para tomar o Patriota e entregá-lo à família Bolsonaro.
Barroso perdeu a eleição em 2018 para uma vaga de deputado federal por São Paulo. Obteve 42.717 votos (0,20% dos válidos). Seu plano é tentar, outra vez, ano que vem.
Na última quinta-feira, ele publicou no Diário Oficial a convocação de uma convenção nacional do partido. Marcou para ontem, em Barrinhas, seu reduto eleitoral a cerca de 400 quilômetros de São Paulo.
No edital deixou claro que era para mudar tudo no Patriota, com novo estatuto, regimentos internos, Conselho Político e outros “assuntos de ordem legal e estatutária”. E assinou a peça, solitário.
A confusão começou no domingo, quando a dissidência liderada pelo vice-presidente Ovasco Resende recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral.
Avançou na convenção de Barrinhas, ontem. Meia centena de pessoas se aninharam numa sala de uma casa, no número 219 da rua Duque de Caxias, na Vila Recreio.
Barroso resolveu legitimar, pelo voto, um convite a Jair Bolsonaro para ingressar no partido: “Eu estou colocando em votação a possibilidade, caso ele queira, da filiação do presidente da República. Alguém aqui é contra, se não for levanta a mão!” Seguiram-se gritos, protestos e alguns aplausos.
Antes havia descredenciado, com data retroativa, alguns delegados da oposição interna. Substituiu-os por outros, não eleitos mas escolhidos por ele na última quarta-feira, véspera da publicação do edital da convenção, mas evitou preencher a vaga de um recém-falecido por Covid-19.
Criou novos cargos na Executiva Nacional, como presidentes “de honra”, e dissolveu diretórios estaduais no Acre, Amapá, Bahia, Santa Catarina e Distrito Federal — focos de resistência.
O golpe de Barroso transformou o que talvez fosse uma boa ideia em pesadelo judicial. Jair Bolsonaro, por enquanto, continua na insólita situação de presidente-candidato à procura de um partido.