Augusto Aras, procurador-geral da República, está sitiado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
No Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro mantém a expectativa de que Aras continue coerente na relação de interdependência. E, por isso, o procurador-geral segue “cotado” para futura indicação a uma das onze togas de juiz do Supremo Tribunal Federal.
O desgaste na imagem de independência de Aras em relação a Bolsonaro está levando-o a dificuldades políticas crescentes do outro lado da rua, no Congresso.
Ontem, senadores aprovaram uma audiência para o procurador-geral explicar o destino do relatório do relatório entregue pela CPI da Pandemia — volume de 1,2 mil páginas com anexos (4 terabytes de dados).
Bolsonaro é o personagem central nas denúncias da comissão sobre o desgoverno na pandemia. Os senadores cobram uma definição de Aras. Em tese, ele tem três alternativas: arquivar, iniciar uma ação penal contra o presidente ou pedir a instauração de inquérito no Supremo.
“Eu pretendo compartilhar todo esse material com o Supremo Tribunal Federal”, disse ontem à noite a Roberto D’Ávila, da Globonews. “Nada do que o Senado, nada do que a CPI do Senado – que já foi extinta, é bom que se diga, ela não existe mais. Nada do que foi encaminhado à PGR ficará na PGR, tudo será remetido para a Suprema Corte.” Um eventual confronto no Senado teria potencial devastador para o procurador-geral, que tem dois anos de mandato à frente.
Ele já enfrenta, também, contratempos no outro extremo da praça, no Supremo. Ontem, por exemplo, a juíza Cármen Lúcia cobrou-lhe explicações sobre a “apuração preliminar” que ele anunciou sobre os ataques feitos por Bolsonaro ao Tribunal Superior Eleitoral com denúncias, sem provas, de manipulação do sistema de voto eletrônico.
A juíza quer entender a “forma heterodoxa e não baseada em fundamentos jurídicos expressamente declarados” do procedimento iniciado por Aras, à margem de inquérito no STF.
No tribunal, ele também enfrenta cobranças dos juízes Rosa Weber e Alexandre de Moraes, relatores de outras investigações em que Bolsonaro se destaca.
No Ministério Público há quem veja Aras em processo de autoimolação na praça dos três Poderes.