Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

Angústia no poder

Lula se vê limitado à gerência de gastos e dívidas

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h07 - Publicado em 31 mar 2023, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Sob um sol abrasador, sertanejos esperavam para ver Lula e sua candidata à sucessão presidencial. Ela não apareceu, mas o comício daquela terça-feira, 17 de agosto de 2010, foi um sucesso: a plateia ficou hipnotizada com uma caricatura da voz de Dilma Rousseff. Em tom mais grave, naturalmente:

    — Quero ganhar a eleição para cuidar do meu povo como mãe cuida do filho…

    Lula se divertia imitando a pronúncia peculiar de Dilma num palanque em Salgueiro, a 500 quilômetros do Recife.

    Seu humor estava aditivado pelo recorde de aprovação do governo nas pesquisas, amparado no maior ciclo de investimentos desde a redemocratização, com fartura de crédito do BNDES e de gastos da Petrobras no petróleo do pré-sal.

    Em Salgueiro, multiplicava promessas sobre a redenção econômica do Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do país. Anunciava refinaria, porto e estaleiro em Pernambuco; refinaria e estaleiro no Ceará; siderúrgica e exploração de gás natural no Maranhão.

    — A coisa tá boa. E tão boa que, até no Maranhão, onde o (José) Sarney reclamava que era pobre, o Eike (Batista) acaba de achar gás — comemorou.

    Continua após a publicidade

    À noite, enquanto retornava a Brasília, o empresário Eike Batista animava um leilão beneficente no inverno paulistano. Pagou o equivalente a 1 200 000 reais, a preços de hoje, por um terno doado por Lula. Até quebrar e ser preso por fraudes no mercado de capitais, Eike continuou sendo exaltado por asses­so­res do governo e teóricos do PT como “figura emblemática” de “uma camada de empresários dispostos a seguir as orientações do governo”.

    Quando Lula entregou o poder a Dilma, a inflação beirava 6% ao ano e aumentava. A “coisa tão boa” começou a fenecer dezenove dias depois, quando o Banco Central encareceu o crédito para reduzir o ritmo de avanço dos preços: aumentou os juros (de 10,75% para 11,25% ao ano). A instabilidade dos anos seguintes é história conhecida.

    Lula, agora, tenta moldar o futuro com ideias que lá atrás se provaram funcionais para garantir a reeleição e, depois, a sucessão. Porém o mundo é outro e a Presidência já não tem o poder que possuía na década passada.

    “Lula se vê limitado à gerência de gastos e dívidas”

    Continua após a publicidade

    A paisagem vista pelos janelões do Palácio do Planalto está meio turva. O presidente exibe-se aflito e angustiado nas reuniões com ministros e parlamentares. Sonhava com uma volta à era da “coisa tão boa”, mas a fragilidade da economia ameaça limitá-lo à gerência de gastos e dívidas.

    O governo projeta estagnação neste ano, com inflação alta e risco de insolvência. As debilidades estão visíveis no comércio, onde o custo do dinheiro mais que duplicou (105%) a dívida bruta das empresas. A gravidade da atual crise de crédito “pode forçar” o Banco Central a baixar juros antes do esperado, aposta o Conselho de Economia e Política da Federação do Comércio de São Paulo em relatório da semana passada.

    Ao Lula agônico e vacilante sobre o controle de gastos e dívidas, o BC retruca com juros (13,75%) mais altos que no início do governo Dilma. Num laivo de ironia política, transparente em empáfia, receita “serenidade e paciência”. No prédio ao lado, no Congresso, predomina a letargia. O governo completa três meses sem votar um único projeto prioritário na sua agenda legislativa.

    Ansioso por soluções, Lula poderia pedir ao seu ministro da Defesa, José Múcio, para contar a experiência de resolução de um impasse com um parlamentar de Bodocó, vizinha a Salgueiro, na caatinga onde imitou Dilma.

    Continua após a publicidade

    Múcio era deputado federal pelo PTB de Pernambuco, em 2005, quando recebeu o aliado tenso e aflito:

    — Queria ver se o senhor, que tem influência aqui em Brasília, poderia me ajudar com alguém lá no Judiciário… É que tem aí um parente da minha mulher que está com probleminha…

    — Como assim?

    — Ele se envolveu numa besteirinha… Essa coisa aí da freira (o assassinato da missionária católica americana Dorothy Stang) no Pará.

    Continua após a publicidade

    Múcio emudeceu, meditou, recuperou o fôlego e encarou o aliado:

    — Tá certo. Você está aqui com um amigo, a quem você nunca faltou. Vamos ver, eu vou anotar aqui no papel, fazer uma lista. Quem é que está do nosso lado? Eu, você e a sua mulher. Agora, vamos ver quem é que está contra nós? Temos o papa, o Vaticano, os Estados Unidos, a Europa, o Tribunal Penal Internacional, o governo, o Congresso, o Judiciário e todas as igrejas brasileiras… Então, quem você acha que vai ganhar?

    Acabou o impasse.

    Publicado em VEJA de 5 de abril de 2023, edição nº 2835

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.