
“No Brasil, a tema da interrupção voluntária da gravidez sempre foi um elefante branco na sala da ‘grande política’. A polêmica fala de Lula sobre o aborto escancarou contradições antigas da política brasileira: a dificuldade de se falar sobre interrupção voluntária da gravidez em qualquer ponto do espectro político. Se as manifestações histéricas de repúdio da direita são sempre esperadas, a postura reticente da esquerda é o que causa mais incômodo. Ainda que a antiga tática de deixar o debate morrer pareça ser a solução mais confortável, defendo que já passou da hora de qualificar um pouco mais essa conversa (…) Nos últimos programas de candidatos à presidência da esquerda, a palavra aborto é condescendentemente omitida, e o assunto passa longe dos palanques, mesmo quando o debate é justiça de gênero. O argumento que sustenta o silêncio é uma releitura da velha subalternização das pautas feministas, aqui maquiada de tática política: o debate do aborto é muito delicado, um amálgama de questões morais, religiosas e sociais, e atrai críticas intensas o suficiente para ameaçar a viabilidade eleitoral programas progressistas. E o resultado é esse: na redemocratização, a pauta foi deixada de lado, pois o foco seria encerrar a ditadura, nos anos 90 pelo combate ao projeto neoliberal, em 2002 pela importância de eleger o primeiro presidente trabalhador da história do país, e em 2014 pelo esforço de reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Atualmente, a urgência em derrubar o Bolsonaro pede às mulheres, mais uma vez, paciência, pois ainda não é o momento “certo” de falar, já que a defesa de uma maior amplitude do direito ao abortar poderia colocar em risco a vitória do PT por cutucar o vespeiro do eleitorado religioso. Será mesmo?”
(Tainã Gois, advogada e integrante do Conselho de Políticas para Mulheres da Prefeitura Municipal de São Paulo, co-autora de “No fio da navalha: a litigância de má-fé e o preconceito”, sobre o silêncio sobre o aborto na esquerda no portal A Terra é redonda)
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