Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

A receita política do “vice dos sonhos”

Relações tensas entre presidente e vice são uma constante, como no caso de Bolsonaro e Mourão. Raríssima é a sintonia plena, como a de FHC-Marco Maciel

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 jun 2021, 09h01 - Publicado em 13 jun 2021, 09h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Jair Bolsonaro é um candidato à reeleição à procura de um partido. E também de um vice. O atual, Hamilton Mourão, prepara a candidatura ao Senado.

    O divórcio começou na campanha eleitoral de 2018. Houve momentos em que o candidato criticou o vice por suposta “ofensa a quem trabalha” e, por assessores, chegou a sugerir que continuasse falar em público.

    O ex-general Mourão nunca se deixou enquadrar pelo ex-capitão Bolsonaro, sempre disse o que quis. Até o recente episódio de indisciplina no Exército, protagonizado por Bolsonador e o general (na ativa) Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde.

    O vice defendeu, em público, punição exemplar ao general delinquente. O presidente pressionou a cúpula do Exército pelo “perdão”. Quando conseguiu, Mourão anunciou-se em silêncio “por disciplina intelectual”.

    Relações tensas entre o presidente e o vice são uma constante na história republicana. Talvez, a imagem mais precisa desse tipo de conflito no centro do poder seja a do alagoano Manuel Deodoro da Fonseca, o marechal monarquista que liderou o golpe contra o Império e inaugurou a história da república federativa brasileira.

    Continua após a publicidade

    Ele governou sozinho por um ano. Na primeira eleição constitucional, em 1891, foi confirmado (por 129 votos) e ganhou um vice eleito pela oposição, também alagoano e marechal Floriano Peixoto (por 153 votos).

    Aturavam-se na mútua desconfiança. O marechal-presidente, segundo a lenda, dizia dormir “como se estivesse com um sentinela à porta”. Esse governo durou oito meses, até novo golpe de Deodoro, que renunciou em três semanas.

    Assumiu o vice, adversário e alagoano Floriano. Governou sozinho, sob estado de sítio, pelos três anos seguintes, entregou o cargo a um civil, o advogado Prudente de Moraes, e morreu seis meses depois.

    Continua após a publicidade

    Na história brasileira prevalece o clima de conflito entre presidente e vice. O caso mais recente foi o de Dilma Rousseff e Michel Temer, que assumiu a cadeira dela depois de um processo de impeachment para o qual alguns do PT, o partido da presidente, ajudaram a desenvolver — por ação ou omissão.

    O antecessor, Lula, mostrou ser possível trilhar caminho inverso ao de Dilma e Temer. Sua história com o vice José Alencar, industrial e senador de Minas Gerais, é obra política incomum, simbólica na construção de um governo ansioso por ser reconhecido como moderado. Continham-se nas divergências.

    Rara mesmo é a sintonia fina, harmonia plena, demonstrada pelos antecessores, Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel. Conviveram por uma década no Senado, tinham origem e ideias políticas diferentes, mas realizaram uma parceria plena durante oito anos no poder.

    Continua após a publicidade

    Maciel, advogado e professor pernambucano, morreu ontem, aos 80 anos. Liberal convicto, hábil na conciliação, não deixava pergunta sem resposta — principalmente, de jornalistas. Atravessou uma vida na política sem dizer nada passível de gerar conflitos, mesmo quando dizia tudo com o olhar e o sorriso de todos os dentes.

    Quanto tentavam cercá-lo com cenários de crise, dizia, em tom suave: “É muito difícil falar sobre hipóteses, embora em política não se possa excluir hipótese alguma”. Previsões? Contava uma historieta pernambucana: “Lá no Recife tinha um jogador, o Ananias, que ao entrar em campo foi surpreendido por um radialista querendo previsão para o jogo. O Ananias respondeu: ‘Meu amigo, prognóstico só final.'”

    Ele assumiu 87 vezes a presidência, como interino, durante viagens de Fernando Henrique. Sentou mais tempo na cadeira presidencial do que, por exemplo, Jânio Quadros cujo governo durou de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961.

    Em depoimento a Angelo Castelo Branco, autor de Marco Maciel, o artífice do entendimento, resumiu a receita de como se transformar num vice “dos sonhos” — definição de Fernando Henrique: “Acho que talvez eu tenha tido sucesso no cargo por causa da minha atitude de ver o vice-presidente como um parceiro do presidente e não como um concorrente, e muito menos como alguém que conspira porque está querendo ser o presidente. Assim, se no passado, ao longo de mais de 100 anos de República, vimos muitas coisas complicadas acontecerem, comigo a relação sempre foi extremamente aberta, fluida.”

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.