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Por José Casado
Informação e análise
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A inútil paisagem de Jair Bolsonaro

“Pato manco”, em fim de mandato e, nas pesquisas, com minguada perspectiva de poder, ele segue na multiplicação de conflitos inócuos

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 jan 2022, 10h12 - Publicado em 9 jan 2022, 13h20

Jair Bolsonaro está conseguindo unir as Forças Armadas, o Judiciário e Congresso. Contra ele. 

A ironia tem sido repetida em conversas de oficiais militares com parlamentares. 

Na prática, é um presidente em fim de mandato — “pato manco”, na gíria importada. 

Além disso, está sem perspectiva de poder — a decadência nas pesquisas eleitorais sugere que, agora, só tem direito a café frio no palácio, segundo o velho humor político nativo.

Assim, tenta se mostrar em público como se estivesse atuando no segundo dia de governo, dono do poder. 

Fez isso, por exemplo, ao vazar sua “irritação” com o Comando do Exército, que expediu aviso  à tropa de 220 mil soldados sobre a necessidade de vacinação para retorno às atividades nos quartéis, em nome da segurança “da capacidade operativa”. 

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Pela natureza irracional, a suposta cólera presidencial não durou 24 horas. Ontem, depois de breve  reunião com o general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, Bolsonaro culpou o Ministério da Defesa e decretou vitória, anunciando que não houve “exigência nenhuma” de vacinação da tropa. Emendou com uma retirada rápida dessa árida frente de batalha: “Está resolvido.” 

Saiu-se pior em outro choque público — também por causa da vacina contra a Covid-19.  “Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?”, disse insinuando corrupção na agência de vigilância sanitária por sancionar a vacinação de crianças. Já havia ameaçado divulgar nomes dos 1,6 mil servidores da agência que recomendou imunizaçao imediata na faixa etária de cinco a onze anos.

Recebeu uma duríssima e elegante resposta pública do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, médico com longa carreira na Marinha que ele nomeou para a agência em 2019. “Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro” — escreveu Torres — “não perca tempo nem prevarique, senhor presidente.” 

Acrescentou, em desafio: “Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.”  

Prevaricação é um dos crimes previstos na legislação civil e militar para  funcionário em ação contra a administração pública, quando retarda, se omite ou atua deliberadamente contra a lei por interesse ou sentimento pessoal. A pena prevista é de prisão de três meses a dois anos, além de multa. 

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É a segunda vez, nos últimos três meses, que Bolsonaro é publicamente acusado desse tipo de crime. Em outubro, foi denunciado à Procuradoria-Geral da República pela CPI da Pandemia, por omissão ao receber denúncia de corrupção no Ministério da Saúde na compra de vacinas contra a Covid-19. 

A carta do presidente da Anvisa, em tese, deixa Bolsonaro exposto a uma série de processos criminais, além de prevaricação, por calúnia, injúria e difamação em tribunais civis e militares. 

Na essência, os episódios desta semana com a agência e o Comando do Exército confirmam um governante errático, em fim de mandato, que jogou o governo pela janela e está acossado pela minguante perspectiva de poder nas pesquisas. No entanto, persiste na tentativa de transformar instituições de Estado em comitês da sua campanha à reeleição. 

Se esses conflitos inócuos pudessem ser resumidos numa pintura, o quadro mereceria um título: Inútil paisagem bolsonarista.

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