Assine VEJA por R$2,00/semana
Jorge Pontes Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
Continua após publicidade

Nada a comemorar no dia internacional do combate à corrupção

'A onda de mudanças trazida pelas descobertas da Operação Lava Jato encolheu e sumiu'

Por Jorge Pontes
Atualizado em 9 Maio 2024, 18h40 - Publicado em 10 dez 2023, 19h19
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Dia 9 de dezembro — esse último sábado — foi comemorado planetariamente o Dia de Combate à Corrupção. Contudo, por aqui, não temos o que festejar em relação à data. Muito pelo contrário. 

    Publicidade

    A onda de mudanças trazida pelas descobertas da Operação Lava Jato encolheu e sumiu. O establishment político e os operadores – prepostos da delinquência institucionalizada — reagiram e venceram a parada. E retrocedemos mais de uma década em relação ao enfrentamento a esse flagelo — que tem o poder de nos amarrar ao passado e de minar as possibilidades de nos desenvolvermos como nação. 

    Publicidade

    Mas, agora, passados 9 anos da primeira fase da hoje decaída operação da PF, não podemos simplesmente dizer que a derrocada do enfrentamento à corrupção no Brasil se deve tão somente a uma reação dos políticos corruptos, a uma daquelas “contra-reformas mafiosas”, como bem definiu o Professor americano e especialista na matéria Edgardo Buscaglia, da Columbia Law School de Nova York. 

    Temos atualmente uma sociedade – além de  polarizada – com posições ideológicas “calcificadas”, conforme o termo consagrado pelo livro “Biografia do Abismo”, de Felipe Nunes e Thomas Traumann. Qualquer movimento de rua que convocar uma manifestação pelo combate à corrupção não juntará meia dúzia de gatos pingados. O zeitgeist que juntou milhões de pessoas nas capitais do Brasil (nos anos que antecederam às eleições de 2018) sumiu na poeira. 

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    A verdade é que o movimento iniciado com a Lava Jato, que durante algum tempo nos deu esperanças, acabou parindo Jair Bolsonaro e a sequência dos quatro annus horribilis que foi o seu mandato presidencial. Nesse período testemunhamos, além da nomeação de um engavetador na Procuradoria-Geral da República, a evolução de esquemas de desvios de verbas públicas atingir a quintessência da desfaçatez, com a elaboração do odioso Orçamento Secreto, algo que tangencia a legalização dos malfeitos. Bolsonaro, eleito na onda anti-corrupção, foi um horror para essa luta. E nesse mesmo lapso vimos também alguns dos atores principais da Lava Jato largarem suas carreiras e serem fagocitados pela política, o que foi outra pá de cal para a causa.

    Enfim, não foi apenas o exército formado por advogados criminalistas, juízes garantistas e políticos interessados em manterem seus esquemas que enterrou a Lava Jato. Se não houvesse os quatro anos de Bolsonaro, e a vulnerabilização de atores — símbolos — da persecução penal que deveriam ter seguido o curso de suas carreiras até o final, não teríamos essa incrível virada de jogo.

    Publicidade

    Até porque a Lava Jato seguiu bem o seu curso em seus primeiros quatro anos, enfrentando os mesmos advogados criminalistas, os mesmos juízes garantistas e esses mesmos políticos corruptos, e foi condenando a todos, inclusive com a chancela do Supremo Tribunal Federal.

    Continua após a publicidade

    E perdemos uma grande oportunidade de iniciar um processo importante de transformação no Brasil, até porque a corrupção assinalada pela Polícia Federal ocorreu. Os acordos de colaboração e os bilhões repatriados não nos deixam mentir. Mas, a bem da verdade, se quisermos, mais adiante, retomar essa linha, temos necessariamente que absorver e tirar lições tanto dos acertos como dos erros cometidos. 

    Publicidade

    Uma das mais importantes inferências é que não podemos depender de pessoas para vencer as batalhas contra tais crimes, mas das instituições. Temos que criá-las, fortalecê-las, ajustá-las e atualizá-las, como parte de um processo coletivo e institucional. 

    E como foi dito pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, em recente debate realizado em São Paulo, pelo Instituto Não Aceito Corrupção, “o combate à corrupção cabe a instituições, não a santos e heróis”. 

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Enfim, não devemos alimentar personagens heróicos ou santificados, pois tais situações acabam por trazer politização aos processos criminais. Não há ungidos nem salvadores da pátria nesse embate. O enfrentamento à corrupção não pode ter viés religioso nem político. Qualquer escorregada nesse sentido tem, inclusive, o poder de retroagir para enfraquecer (e até deslegitimar) atos passados, principalmente quando alvejamos esquemas capitaneados por poderosos.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.