Nesta semana os brasileiros viram o Brasil literalmente pegar fogo, e de alto a baixo. Os focos de incêndio, localizados em sua maioria na Amazônia, Pantanal, e em diversos outros biomas importantes – inclusive no Noroeste de São Paulo – produziram uma nuvem de fumaça que se alastrou de norte a sul no país, atingindo pelo menos dez estados da Federação. Nem Brasília escapou da fuligem gerada pelas queimadas.
A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, suspeita de que os incêndios no interior paulista sejam frutos de uma ação criminosa articulada, algo semelhante ao que ficou conhecido como “dia do fogo”, que ocorreu no Sul do Pará em agosto de 2019, durante o primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro. Nessa ocasião, fazendeiros criminosos (utilizando-se de redes sociais) orquestraram inúmeros incêndios concomitantes. A bem da verdade, em 2019 tínhamos um presidente condescendente com garimpos e queimadas, e um ministro do Meio Ambiente que “passava boiadas” ao desmontar o arcabouço de fiscalização do Ibama. Contudo, os negacionistas e criminosos ambientais que os seguiam cegamente ainda existem aos milhares por aí…
Por isso, está correta a linha de raciocínio de Marina Silva. A Polícia Federal – sempre ela – já instaurou mais de três dezenas de inquéritos policiais, alguns inclusive com foco nas queimadas de São Paulo, e os culpados vão aparecer.
Todos sabem que os meses de agosto, setembro e outubro são de estiagem, e, por isso mesmo, propícios às queimadas. Mas é verdade também que o fogo não se inicia sem a ação humana.
Lamentável que grandezas ambientais como sustentabilidade e alertas como o das ameaças climáticas tenham caído no fosso comum da obtusidade e da polarização política que promove um divisionismo desolador em nossa sociedade. Hoje o flagelo do aquecimento global é negado com veemência pelos mesmos que defendiam cloroquina e o voto impresso.
Um país que está sentado sobre um tesouro ambiental como o nosso não pode ter uma sociedade em que metade das pessoas não acredita nas ameaças climáticas e nos valores do ambientalismo.
Por isso foi importante o lançamento, nesta semana, do “Pacto Econômico pela Natureza”, iniciativa pilotada por um seleto grupo de economistas, empresários e personalidades brasileiras. O manifesto é um chamamento ao poder público, à sociedade e ao setor privado, para o enfrentamento ao cenário criado por esse processo de mudanças climáticas pelo qual já estamos passando.
No texto que apresenta o “pacto” os signatários se dizem “perplexos com o despreparo da nossa nação”, que ficou demonstrado certamente nos últimos eventos catastróficos, como as enchentes no Sul e, agora, o “agosto de fogo”.
Por isso é importante lembrar que só defendemos aquilo que conhecemos minimamente.
Dessa forma, sem prejuízo para as medidas urgentes que devemos tomar nesse momento de crise, é imperiosa a inclusão do tema “educação ambiental e sustentabilidade” como componente curricular obrigatório na grade das escolas de ensino fundamental e ensino médio do país.
Um dos grandes problemas que enfrentamos hoje é a falta de sensibilidade, conhecimento e educação do povo brasileiro em relação aos valores de um meio ambiente preservado. A ausência de cultura e de noções mínimas sobre meio ambiente e sustentabilidade dificultam muito a colocação em prática e o sucesso de projetos ambientais, inclusive o enfrentamento e a conscientização acerca dos malefícios dos crimes ambientais.
Com isso, teremos mais chances de garantir que ao menos as gerações futuras consigam consolidar a preservação de um patrimônio tão importante não apenas para o Brasil, mas para toda a comunidade global.
A temática ambiental nunca mais sairá das agendas. Se um dia fizemos isso com a matéria Educação, Moral e Cívica, temos que repetir a partir de agora com Meio Ambiente.
Além de apagarmos os incêndios de hoje, temos que cuidar também do amanhã, pensando em médio e longo prazo…