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O jardineiro casual

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Ideias práticas e reflexões culturais sobre jardinagem, paisagismo e botânica
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Quaresmeira, a árvore que entrega a real natureza de São Paulo

Sua floração espetacular nas ruas da cidade é um bom pretexto para se investigar: de onde vem esse nome? E o que ela ensina sobre o passado paulistano?

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 21h02 - Publicado em 14 fev 2017, 15h31
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  • Ela já era figurinha fácil no pedaço muito antes de São Paulo virar a cidade daqueles atributos que todo mundo está cansado de saber – carros, concreto, a Pauliceia Desvairada dos modernistas. A quaresmeira não deve ser vista meramente como uma árvore simpática: ela é um testemunho botânico vivo sobre a verdadeira natureza paulistana. Quando os jesuítas chegaram por aqui, lá no século XVI, encontraram campinas, rios, manchas de cerrado. Mas o que dava tom à paisagem, não há dúvida, era a vegetação típica da Mata Atlântica do alto da serra – São Paulo, afinal, está geograficamente encravada na borda da Serra do Mar. O que explica, aliás, outro atributo óbvio que tem tudo a ver com as quaresmeiras: a garoa. Por vir da mata úmida de altitude, essa árvore de pequeno porte – bem como seu parente próximo, o manacá-da-serra – adora uma garoazinha bem paulistana.

    Quaresmeira-roxa.
    Quaresmeira-roxa. (Silvestre P. Silva/VEJA)

    Mas deixemos de história para ir ao que interessa: as quaresmeiras de São Paulo estão bombando. Pelas ruas da cidade, é impossível não notar a explosão de tons de roxo e rosa proporcionada pela espécie. Quaresmeira é muito carne-de-vaca? Bem, e daí? Elas são daqui e nunca, jamais serão demais na nossa paisagem: recomendo vivamente que a quaresmeira seja levada em consideração se você tiver de plantar uma árvore na frente de sua casa ou em seu jardim.

    Quaresmeira, na Praça das Fontes.
    Quaresmeira roxa (Manoel Claudio da Silva Jr/VEJA)

    Além de ser uma planta nativa, a Tibouchina granulosa – nome científico tanto da variedade roxa quanto da rosa – exibe a vantagem de ser extremamente rústica. Tudo o que ela precisa é de boa insolação, regas regulares no início do cultivo e alguma atenção em relação a pragas como os cupins. Se você quer turbinar sua quaresmeira, tente adubá-la de vez em quando com NPK 10-10-10 (a combinação básica de nitrogênio, fósforo e potássio). No mais, como sabe qualquer pessoa que já desceu de carro para o litoral, vale também investir no manacá-da-serra – cujas flores mesclam tons de lilás e branco. O manacá, ou Tibouchina mutabilis, é opção mais adequada para varandas de apartamento, pois sua variedade anã se adapta muito bem a vasos. Mas atenção: um tanto de luz solar direta será sempre obrigatório.

    E de onde vem esse nome meio solene e religioso, quaresmeira? Basta atentar para o calendário e você vai entender sua lógica: a árvore costuma iniciar seu principal período de floração às vésperas do Carnaval – ou seja: ela anuncia a chegada da quaresma. Normalmente, continua coberta de flores até a Páscoa. Há quem suspeite que as quaresmeiras estejam meio enlouquecidas, e florescendo, a cada ano, com mais antecedência. Desconheço, entretanto, qualquer estudo sério que confirme ou estabeleça uma causa para isso. Na dúvida, fico com a explicação biológica mais plausível para essas variações: em anos com chuva mais uniforme, como tem sido o caso deste verão, as quaresmeiras tendem a florescer mais cedo e com vigor notável. Que a cidade permaneça roxa e rosa até a Páscoa, amém.

    Manacá-da-serra
    Manacá-da-serra (Divulgação)
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