Na paisagem desse inverno seco paulistano, árvores em flor chamam atenção para todo lado, das eritrinas às patas-de-vaca. Mas sãos mesmo os ipês que estão com tudo. Se não me falha a memória, fazia alguns anos que as variedades de ipê roxo não floresciam de um modo tão exuberante pelas ruas da cidade. E olha que ainda virão por aí, pela ordem, os ipês amarelos, os brancos e o rosa – este último, o único que não é de origem brasileira: vem de El Salvador.
Os ipês são o testemunho acabado de um fenômeno botânico: para que suas flores venham na potência total, essas árvores precisam flertar com a morte. Explico melhor abaixo.
É o estresse causado pelo frio e, principalmente, pela seca que aciona o relógio biológico das plantas, indicando que é tempo de florescer. Os ipês em geral são espécies caducifólias – traduzindo: no momento de maior sofrimento do ano, justamente de agora até o final do inverno, eles perdem completamente as folhas. Trata-se do sinal de que estão estressadíssimos e prestes a florescer. Muitos tipos de ipês, vale lembrar, são típicos das condições extremas do cerrado. No vídeo abaixo, eu falo mais sobre o tema:
https://videos.abril.com.br/veja/id/4bf88264589d64fc2789a9a7e432f522?
Ou seja: é da experiência de quase morte, de seu flagelo frente às severidades do clima que vem a beleza dos ipês. A planta entende o estresse como sinal de que seu fim pode ser iminente – e, como resposta, busca produzir o máximo de sementes para deixar descendentes.
Volta e meia, pesquisas sugerem que um tanto de estresse faz bem até para nossa saúde. No caso dos ipês, não há dúvida em afirmar: sem estresse não há vida.