Por toda a infância deste jardineiro diletante, ela foi uma referência inevitável: sempre que eu passava pela trilha em meio à plantação de eucaliptos que cobria parte do velho sítio da família, lá estava seu tronco encravado no chão como uma enorme e espinhenta pata de dinossauro. Mesmo na comparação com o alto bosque de eucaliptos em torno, a velha paineira dominava o pedaço. Quando os eucaliptos foram arrancados, ela finalmente pôde ser apreciada em sua magnificência completa: coberta de flores lilases que se formam bem no meio do verão, é um espetáculo feito para se observar de longe, como um testemunho da grandiosidade vegetal.
A paineira é a representante mais familiar de uma categoria de gigantes da natureza: as árvores que produzem um efeito bombástico na paisagem em razão de seu tronco exageradamente intumescido, muitas vezes até desproporcional em relação à copa da planta. Nisso, a nossa paineira rosa ou lilás é até discreta perto de parentes como os baobás africanos, a barriguda (ou imbaré) da caatinga nordestina, a sumaúma da floresta amazônica ou o palo borracho, dos vizinhos Paraguai e Argentina (confira um pouco mais sobre elas nas imagens deste post). Tecnicamente, todas pertencem à subfamília botânica “Bombacoideae”. Na prática, prefiro chamá-las simplesmente pelo que parecem: árvores “bombadas”.
Para que serve um tronco tão absurdo? Quem apostou no óbvio acertou: trata-se de um modo da planta guardar água e nutrientes. Seja aquele que há em excesso, como nos ambientes alagados onde cresce a sumaúma, seja aquele que é escasso e precioso, caso do solo árido em que a barriguda nordestina vegeta.
E qual a razão de um post sobre árvores imensas e de crescimento tão lento que pouca gente poderá ter em seu próprio jardim – que dirá ver formadas em plenitude durante a vida? Bem, elas não são apenas organismos fantásticos diante dos quais ninguém passa indiferente. São monumentos à eternidade – e, como tal, existem para ser reverenciados.