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Isabela Boscov

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Velozes e Furiosos 8

A série que enlouqueceu (no bom sentido), acelera sem parar e serve é para divertir mesmo – e muito

Por Isabela Boscov 14 abr 2017, 16h05
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  • Não vou dizer que eu seja louca por Vin Diesel (muita gente boa é), nem que eu fique contando os dias até a estreia do próximo Velozes e Furiosos. Mas, quando estou na sala de cinema e o filme começa – aí eu me divirto horrores mesmo, sem medo de ser feliz. De VF2 a VF5, nem tanto. Mas, de VF6 para cá, esta série ao mesmo tempo achou seu passo e enlouqueceu: tem as cenas de ação mais impossíveis e sensacionais, tem senso de humor, o elenco passa a impressão de que está se divertindo muito (mesmo quando se estranham nos bastidores, como aconteceu recentemente com Diesel e Dwayne Johnson), e as participações especiais estão ficando cada vez melhores: em VF8, temos Charlize Theron (a vilã inescrupulosa), Helen Mirren (a mãe de Jason Statham!) e Kurt Russell de volta como o Sr. Ninguém. Até Scott Eastwood (que é a cara do pai, Clint), sem sal em Snowden e em Esquadrão Suicida, está bem mais animado no papel do aprendiz desastrado do Sr. Ninguém.

    Velozes e Furiosos 8
    (Universal Pictures)

    Velozes e Furiosos é, também, um fenômeno: de origens humildes (ao contrário de, digamos, Harry Potter ou Jurassic Park), mas afinada com o público, a série foi crescendo, crescendo… E chegou ao sétimo episódio, quando a maior parte das franquias já está pondo as barbas de molho, arrebentando recordes. VF7 rendeu o dobro de VF6 e é, neste momento, a sexta maior bilheteria da história. Ação, Vin Diesel, a morte trágica de Paul Walker – tudo isso conta na bilheteria. Mas conta, também, algo de que a plateia talvez nem se aperceba: quando ela olha para a tela, as pessoas que estão lá têm a cara das pessoas que estão na rua. Tanto se fala em diversidade em Hollywood, e Velozes e Furiosos já cruzou faz tempo essa linha de chegada: tem gente de todas as cores e jeitos (inclusive na direção), e não se auto-congratula por isso – as diferenças nem sequer têm mais qualquer importância nas tramas. Isso, sim, é praticar aquilo que se prega.

    Leia a seguir a resenha completa:


    Com o Tanque Cheio

    Espera-se que Velozes e Furiosos 8 faça 400 milhões de dólares no fim de semana de estreia – e há muitas e boas razões para o sucesso sem precedentes desta série

    A previsão é de trovoada: na segunda-feira 17, quando for computada a bilheteria do fim de semana, Velozes e Furiosos 8 deverá ter feito chover dinheiro, acumulando 400 milhões de dólares nos países em que foi lançado – entre os quais o Brasil. Atenção ao numeral 8. Franquias sobem e descem; em geral, continuações batem recordes quando há um clímax dramático (como no último Harry Potter), ou quando ressuscitam uma marca com efeitos de última geração (caso de Jurassic World). Mas não quando são serializadas, com um novo enredo a cada filme – aí Velozes e Furiosos, sempre subindo, sai fora da curva. Em 2015, Velozes e Furiosos 7 dobrou a renda do episódio anterior; fez 1,5 bilhão de dólares, e hoje é a sexta maior bilheteria da história. Esse desempenho pode ser atribuído, em parte, à comoção pela morte do ator Paul Walker, em 2013, num horrendo desastre automobilístico (Walker já havia gravado muitas de suas cenas para VF7). Na maior parte, entretanto, esse recorde se deve à agilidade: Velozes e Furiosos tem pedais sensíveis, por assim dizer, e responde com rapidez ao menor toque do público.

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    Velozes e Furiosos
    Vin Diesel e Paul Walker no primeiro Velozes e Furiosos, de 2001 (Universal Pictures/Divulgação)

    O fator mais óbvio é a paixão da plateia por ação de altíssima octanagem. Dezesseis anos atrás, o primeiro Velozes e Furiosos já tirava excelente partido dela, nos limites do seu orçamento de 38 milhões de dólares. Hoje, um filme da série custa por volta de 200 milhões, mas o dinheiro está todo na tela: os stunts foram ficando cada vez mais elaborados e aloprados. O roteiro nunca é uma joia da escrita (nem é para isso que ele serve). No entanto, a equipe técnica da série, essa é um assombro de criatividade e competência. VF7 era diversão pura, e VF8 tem pelo menos duas sequências que por si sós já valeriam os longos 136 minutos: um balé envolvendo centenas de carros com piloto automático e outra cena em que um submarino persegue, sob o gelo, os heróis que aceleram na superfície – tudo obra da vilã interpretada por Charlize Theron, com longos dreadlocks loiros e um ar de garota de praia que passou para o lado escuro da Força. À medida que o sucesso aumenta, a série recruta com ousadia crescente: desta vez, até Helen Mirren dá as caras, divertindo-se no papel da mãe de Jason Statham.

    Velozes e Furiosos 8
    (Universal Pictures/Divulgação)

    O maior trunfo de Velozes e Furiosos, entretanto, começou a se desenhar de forma inesperada. Em 2001, o plano era que Paul Walker fosse o astro; Vin Diesel seria o coadjuvante carismático. A plateia, porém, saiu do cinema invertendo a equação, e ungiu o fortão, careca e autoconfiante Diesel em motor da história. Walker, esguio, bonito e sensível, é que deveria ser seu contraponto. Os produtores pegaram a dica na hora. Desse emparalhamento, saíram desdobramentos que ressoam junto ao público da série, que é urbano, jovem, na maioria masculino e excepcionalmente diversificado (nos Estados Unidos, três quartos dele são compostos de negros, latinos e asiáticos).

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    Velozes e Furiosos 8
    (Universal Pictures/Divulgação)

    O panorama do primeiro Velozes e Furiosos não era tão diferente assim daquele que se encontraria num filme de delinquência juvenil dos anos 50 e 60: brancos, negros, latinos e asiáticos em seus respectivos cantos, e todos competindo entre si por supremacia na cultura do “racha”, as corridas clandestinas com carros “tunados”. A série, porém, foi se metamorfoseando, e chegou ao quarto episódio, em 2009, tornando ultrapassados termos como integração e diversidade. Tantas eram as tonalidades de pele e as origens culturais dos personagens, e tão irrelevantes para o enredo de cada novo filme, que Velozes e Furiosos despontou como a reprodução mais autêntica, no cinema, do cenário humano das metrópoles de hoje, e a que melhor celebra um conceito amplo de família, em que as afinidades eletivas são tão essenciais quanto os laços de sangue.

    Velozes e Furiosos 8
    (Universal Pictures/Divulgação)

    Ninguém acusaria Velozes e Furiosos de ter pretensões sociológicas. E, no entanto, esta é uma franquia que está vários passos além da ideia de cotas: a base de todas as suas tramas são as amizades sem credo nem raça que se forjam no campo de batalha. O loiro de olhos azuis Paul Walker, a latina Michelle Rodriguez, o coreano Sung Kang, a brasileira-americana Jordana Brewster, os negros Tyrese Gibson e Ludacris – este com um tanto de índio americano em seus genes –, o inglês Jason Statham, o meio negro e meio samoano Dwayne Johnson, a espanhola Elsa Pataky, a anglo-dominicana Nathalie Emmanuel e, à frente deles, o ítalo-americano mas etnicamente indefinível Vin Diesel: os protagonistas que já passaram pela série ou permanecem nela são tudo ao mesmo tempo, e têm a cara das pessoas que andam pelas ruas – ou rodam nelas a toda velocidade, neste caso.

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    Isabela Boscov
    Publicado originalmente na revista VEJA no dia 15/03/2017
    Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
    © Abril Comunicações S.A., 2017

    Trailer

    VELOZES E FURIOSOS 8
    (The Fate of the Furious)
    Estados Unidos, 2017
    Direção: F. Gary Gray
    Com Vin Diesel, Dwayne Johnson, Michelle Rodriguez, Charlize Theron, Jason Statham, Ludacris, Tyrese Gibson, Kurt Russell, Nathalie Emmanuel, Scott Eastwood, Elsa Pataky, Helen Mirren, Luke Evans, Kristofer Hivju, Patrick St. Esprit, Olek Krupa
    Distribuição: Universal
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