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Isabela Boscov

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Um Amor a Cada Esquina

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Por Isabela Boscov Atualizado em 31 jul 2020, 00h17 - Publicado em 17 out 2015, 18h09
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  • A segunda chance é a que vale.

    É uma graça este filme do diretor Peter Bogdanovich: o cenário e os personagens têm muito de Woody Allen, mas o coração dele está nas screwball comedies, as “comédias abiloladas”, dos anos 30 e 40.

    Izzy, ou Isabella (Imogen Poots, ótima, com um sotaque do Brooklyn de cortar com faca), é a proverbial prostituta com um coração de ouro: ela acha que o trabalho dela é ser uma musa – por uma hora, inspirar homens que não se sentem mais inspirados por nada. Mas, durante um programa com o diretor de teatro Arnold Albertson (Owen Wilson), é ela quem tira a sorte grande: Arnold diz que ela não deve desistir dos seus sonhos – o dela é ser atriz, claro –, e dá a ela 30 mil dólares para começar a nova vida.

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    Bom, surpresa: qual o primeiro trabalho agendado para a recém-nascida atriz Isabella? Um teste na peça que Arnold vai dirigir, claro. E que é estrelada pela mulher dele, Delta (Kathryn Hahn), e por um inglês (Rhys Ifans) com quem Delta tem um passado. O autor da peça, Joshua (Will Forte) se encanta com Isabella – mas nem desconfia que Isabella é paciente da namorada dele, a terapeuta neurótica Jane (Jennifer Aniston). E aí se está ainda só no começo das mil coincidências que movimentam Um Amor a Cada Esquina, todas tão improváveis que acabam soando perfeitamente plausíveis: esta Nova York de bistrôs, suítes de hotel, lojas caras e táxis a toda hora é uma província em que todo mundo conhece alguém que conhece o outro, e onde todos se trombam o tempo todo.

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    O que é realmente cativante no filme, porém, é quanto ele é espirituoso, ligeiro e também doce. É muito mais difícil do que parece reproduzir esse toque leve dos grandes diretores de screwball comedies do passado, como Frank Capra (Aconteceu Naquela Noite), Preston Sturges (As Três Noites de Eva), Ernst Lubitsch (Ninotchka) e Howard Hawks (Levada da Breca), só para citar os exemplares mais deliciosos do gênero. Mas Bogdanovich, que está com 76 anos, consegue reencontrar aqui sua inspiração do começo de carreira. Repare também nas dezenas de pontas de atores famosos.

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    Aliás, só a título de curiosidade, a carreira de Bogdanovich é uma das mais cheias de altos e baixos, de consagração e de desgraça, da história de Hollywood. Sua estreia como diretor, A Última Sessão de Cinema (1971), é um dos filmes-marco da revolução autoral do cinema americano dos anos 60 e 70, e seus trabalhos seguintes, Essa Pequena É uma Parada (1972) e Lua de Papel (1973), foram imensos sucessos. E aí o jogo virou: Bogdanovich começou a afundar em fracasso atrás de fracasso. Amor Eterno Amor, de 1975, foi votado um dos piores filmes já feitos até então. Em 1981, a mulher de Bogdanovich, a ex-coelhinha da Playboy Dorothy Stratten, foi brutalizada e assassinada pelo marido que ela deixara pelo diretor, e o escândalo e a tragédia mataram o que restara do prestígio de Bogdanovich. Hoje em dia, ele quase não dirige. Às vezes faz um filme para TV, e só. E trabalha como ator: quem assistiu a Família Soprano o conhece como o Dr. Elliot, o analista da Dra. Melfi interpretada por Lorraine Bracco. Enfim, não só gostei muito de Um Amor a Cada Esquina, como fico felicíssima que, neste terceiro ato da carreira, Bogdanovich tenha a chance de ser lembrado numa nota menos melancólica.

    P.S.: O livro-entrevista This Is Orson Welles, que Bogdanovich publicou em 1992, é uma das melhores leituras sobre cinema de todos os tempos.

    Trailer

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    UM AMOR A CADA ESQUINA
    (She’s Funny That Way)
    Estados Unidos/Alemanha, 2014
    Direção: Peter Bogdanovich
    Com Imogen Poots, Owen Wilson, Kathryn Hahn, Will Forte, Austin Pendleton, Illeana Douglas, Jennifer Aniston, Rhys Ifans, Debi Mazaar e “pontas” de Cybill Sheperd, Michael Shannon, Scott Campbell, Jennifer Jones, Tatum O’Neal, Jennifer Esposito, Collen Camp, Joanna Lumley e Quentin Tarantino
    Distribuição: Mares Filmes
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