Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

“The Crown 2”: Como melhorar muito o que já era excelente

Em uma segunda temporada virtuosística, a série acua Elizabeth II contra os estremecimentos da história e da sua vida pessoal, e tira dela todas as certezas

Por Isabela Boscov Atualizado em 9 dez 2017, 19h03 - Publicado em 9 dez 2017, 19h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Philip, Duque de Edimburgo (Matt Smith), é coroado príncipe – e raras vezes uma conquista tão desejada há de se ter provado tão decepcionante. A cerimônia mal merece esse nome: a parte indispensável da nobreza observa, com olhar constrangido ou desaprovador, Elizabeth II (Claire Foy) conferir o título ao homem com quem está casada já há dez anos. Quando, com a coroa afinal sobre a cabeça, ele se põe ao lado da rainha, o silêncio da plateia é de uma loquacidade insuportável: ele diz que, já que Philip obteve a honraria por motivos tão reprováveis, é com desdém que ela lhe será entregue. Mas o que se intui da cena é que ninguém se feriu mais fundo nessa batalha do que a própria rainha. Acuada pela insatisfação do marido com os termos de um casamento em que ela é a chefe de tudo e de todos, Elizabeth II enfrentou humilhações sem poder sequer admitir que as estava enfrentando. Foi apanhada de surpresa pelo desinteresse do homem por quem é apaixonada, e só o que lhe restou foi salvaguardar as aparências. Sua solidão vai se aprofundar muito ainda, e chegar ao doloroso. Para ela: para o espectador da segunda temporada de The Crown, desde sexta-feira 8 disponível na íntegra na Netflix, as turbulências de Elizabeth e seus familiares são um deleite. Não apenas pelo prazer de espiar a intimidade dos Windsor, mas pelo virtuosismo com que o criador e roteirista da série, o inglês Peter Morgan, faz a escrita, a realização, a direção e a interpretação confluírem de forma a atingir sempre o máximo de significado e informação, e ainda de entretenimento.

    The Crown 2
    (Netflix/Divulgação)

    The Crown é, apropriadamente, a jóia da coroa da Netflix e o xodó do diretor de conteúdo da plataforma, o americano Ted Sarandos, que até aqui já autorizou um investimento de 130 milhões de dólares na produção – um valor colossal para uma série. O dinheiro não poderia estar em mãos mais responsáveis que as de Peter Morgan e do produtor executivo Stephen Daldry, o diretor do sucesso Billy Elliot, que assina a direção de alguns dos dez episódios. Se a primeira temporada se ocupava sobretudo dos passos incertos do aprendizado da jovem Elizabeth II e de sua acomodação ao peso da coroa, esta segunda temporada alarga o escopo de maneira ambiciosíssima. Claire Foy, em um desempenho ainda mais notável que o da leva inicial (e a ser substituída por Olivia Colman, dez anos mais velha, na próxima temporada), é a pele na qual se sentem os terremotos da virada dos anos 50 para os 60. Da crise do Canal de Suez (um fiasco que roubou à Inglaterra o que lhe sobrara de protagonismo global) à ascensão, no firmamento político, das estrelas John e Jackie Kennedy; do forte sentimento antielitista que tomou conta da nação aos primeiros sintomas da liberação sexual; da popularidade crescente do evangelismo à cultura da invasão de privacidade, Morgan passeia pelo período com desenvoltura assombrosa.

    The Crown 2
    (Netflix/Divulgação)

    Tal é o domínio que Morgan tem das ferramentas da dramaturgia e da história que está narrando que se chega ao final das dez horas de encenação com a sensação de que elas foram tecidas com um fio contínuo (o qual, em certas passagens, ele une a eventos muito posteriores, próximos daqueles contemplados no seu roteiro de A Rainha, como o assédio dos paparazzi à princesa Diana). A qualidade da pesquisa garante que, mesmo quando a série recorre a especulações sobre a história – quem poderia saber com certeza o que a rainha e o pregador americano Billy Graham (Paul Sparks) conversaram a portas fechadas, ou como o fotógrafo Antony Armstrong-Jones (Matthew Goode) seduziu a princesa Margaret (Vanessa Kirby)? –, elas soem íntegras. Faz sentido que Elizabeth II tenha lamentado a Billy Graham a solidão espiritual de uma monarca que não tem ninguém acima dela além de Deus. Ou que Margaret, party-girl por excelência e uma segunda filha contrariada, tenha comprado tal e qual o atrevimento de Armstrong-Jones, sem entender o componente patético das suas afrontas. Jackie Kennedy (Jodi Balfour), sabe-se hoje, andava já muito infeliz em junho de 1961, quando ela e o presidente John Kennedy (Michael C. Hall) visitaram o Palácio de Buckingham. Mas Elizabeth não o sabia, e é provável que, mergulhada na sua própria crise conjugal e numa meia-idade precoce, tenha doído a ela comparar-se com a deslumbrante primeira-dama – episódio que desembocou numa petulante e deliciosa visita da rainha a Gana. Essa visita está nos autos, assim como o discurso desastroso que Elizabeth fez numa fábrica da Jaguar e que deflagrou uma crise constitucional liderada por um aristocrata (o maravilhoso John Heffernan).

    Continua após a publicidade
    The Crown 2
    (Netflix/Divulgação)

    Em nenhum caso a disposição de Morgan para compreender seus personagens se manifesta com tanta compaixão quanto para com Philip, o consorte célebre pela impaciência, pela falta de tato e pelas comichões da infidelidade. Philip submete Elizabeth a uma cota abusiva de desmoralizações nesta segunda temporada – e então, no nono episódio, quando o duque de Edimburgo bate o pé e manda seu tímido primogênito para uma escola na Escócia que o príncipe Charles depois descreveria como “o inferno na terra”, The Crown dá uma meia-volta para mostrar o menino que o próprio Philip foi. É devastador, e comove tanto no que contém de redenção quanto no que sugere de uma infelicidade transmitida de geração para geração. Mas isso é assunto para as próximas temporadas – e assunto é o que os irrequietos Windsor nunca deixam de proporcionar.

    Isabela Boscov
    Publicado originalmente na edição 2560 da revista VEJA
    Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
    © Abril Comunicações S.A., 2017

     

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.