“Aladdin” e as novas versões da Disney: da melhor à pior
Com cinco lançamentos confirmados e pelo menos mais cinco em cogitação, o estúdio não chegou ainda nem à metade dessa nova fase
Não há estúdio com um catálogo de clássicos infantis comparável ao da Disney – nem estúdio que saiba desdobrar seu patrimônio com tanta engenhosidade. Além de Aladdin, que acaba de entrar nos cinemas, já há mais cinco versões live action com data de estreia até 2020: O Rei Leão, Malévola – Dona do Mal, A Dama e o Vagabundo, Mulan e Cruella. E outras cinco estão no papel: A Espada Era a Lei, Pinóquio, O Corcunda de Notre-Dame, Lilo & Stitch e A Pequena Sereia. Assim, o que em 2010 começou como uma aposta, com Alice no País das Maravilhas, virou uma linha de montagem. Às vezes, o que sai dela é uma beleza. Outras vezes, nem tanto. A seguir, então, o meu gabarito das versões de desenhos (incluindo-se a refeitura de dois clássicos live action), da melhor para a pior:
A BELA E A FERA (2017)
A mais equilibrada de todas as versões live action de um desenho lançadas até aqui pela Disney tem em Emma Watson uma Bela muito aprumada e, em Dan Stevens, uma Fera cativante. O destaque absoluto, entretanto, é Luke Evans, um deleite no papel do tolo e vaidoso Gaston. Palmas ainda para a direção de Bill Condon, de Chicago, um veterano que sabe não apenas cenografar números musicais como também costurá-los muito bem à ação.
Bilheteria mundial: 1,27 bilhão de dólares
CINDERELA (2015)
Está ali, ombro a ombro com A Bela e a Fera, graças à personalidade borbulhante de Lily James e à qualidade do elenco principal: se falta um pouquinho de sal a Richard Madden como o Príncipe (só na série Segurança em Jogo ele encontrou o ponto exato), é saborosíssimo o tempero de Cate Blanchett como a Madrasta e o de Helena Bonham Carter como a Fada Madrinha. Na direção, Kenneth Branagh ganha nota alta também por reapresentar o conto-de-fadas tal e qual à nova geração.
Bilheteria mundial: 543 milhões de dólares
O RETORNO DE MARY POPPINS (2018)
Assim como Will Smith teve de se ver com a interpretação antológica de Robin Williams no papel do Gênio de Aladdin, aqui Emily Blunt teve de enfrentar outro desempenho icônico – o de Julie Andrews como a babá mágica Mary Poppins. Emily, porém, é a elegância em pessoa e ótima atriz, e tira qualquer coisa de letra. As crianças também são uma fofura, e a recriação da Londres dos anos 30 é uma beleza. O excesso de canções e a longa duração, contudo, tornam a experiência um tantinho cansativa.
Bilheteria mundial: 350 milhões de dólares
ALADDIN (2019)
Nunca se adivinharia que a direção tão branda é de Guy Ritchie, de Sherlock Holmes (Ritchie, aliás, é ótimo para coreografar brigas de rua, mas não leva muito jeito para encenar números musicais). Will Smith, porém, acerta no papel do Gênio. Além disso, o par central é gracioso e o clima de musical-fantasia de Bollywood funciona.
CHRISTOPHER ROBIN – UM REENCONTRO INESQUECÍVEL (2018)
Ewan McGregor está perfeito como Christopher Robin, o pai de família cansado e preocupado que deixou esquecido no passado o seu encanto com o ursinho Winnie the Pooh e seus outros amigos da floresta – e Hayley Atwell, a Agente Carter, é um encanto no papel da mulher do ensimesmado Christopher. A animação dos bichos de pelúcia é nota dez em perícia e fofura, a Londres do pós-guerra é um arraso de bem feita, e o clima entre o melancólico e o esperançoso dá um sabor especial ao filme.
Bilheteria mundial: 198 milhões de dólares
MOGLI, O MENINO LOBO (2016)
É o preferido de muita gente, é verdade – especialmente daquela parte da plateia que derrete com os bichos eximiamente criados em computação gráfica. Para outros, porém (e me incluo nesse grupo), faltam ânimo e um quê de charme à direção de Jon Favreau (que ficou também a cargo de O Rei Leão, que estreia em julho), e falta também uma certa faísca à atuação do menino Neel Sethi. No saldo geral, chega a ser sonolento.
Bilheteria mundial: 966 milhões de dólares
DUMBO (2018)
Elenco de primeira (Colin Farrell à frente), direção de arte virtuosística, um Dumbo maravilhosamente recriado em computação gráfica – e nem assim o diretor Tim Burton consegue dar à história do elefantinho ridicularizado por suas orelhas enormes a potência emocional que ela poderia (e deveria) ter. Em suma, sobram enredos paralelos, com uma infinidade de personagens em cena, e falta Dumbo aqui.
Bilheteria mundial: 347 milhões de dólares
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (2010)
É a investida pioneira nesta fase de versões live action e fez uma montanha de dinheiro para a Disney. Mas, de novo, Tim Burton se preocupa tanto com o visual que esquece do resto – e, quando se lembra dele, é para pesar a mão com um tom próximo do histérico. Johnny Depp, que deveria compor o centro afetivo do filme junto com a Alice de Mia Wasikowska, não andava também na sua melhor fase, e faz um Chapeleiro tão vago e balbuciante que chega a dar aflição.
Bilheteria mundial: 1 bilhão de dólares
MALÉVOLA (2014)
Parada, mortiça e fora de tom, esta versão de A Bela Adormecida é linda de ver, e só. Os atores – uma penca de gente boa, como Sam Riley e Imelda Staunton – parecem tristes, à espera de que alguém lhes diga por que estão ali. Como a bruxa má que é agora o centro da história, Angelina Jolie faz muitas caras tempestuosas, e pouco mais do que isso; a sensação é que acharam que chamá-la seria uma ideia tão boa que nem seria preciso escrever de fato o papel. Mas rendeu muito bem, então em outubro tem Malévola – Dona do Mal.
Bilheteria mundial: 758 milhões de dólares
ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO (2016)
Ainda mais desnaturada que o primeiro Alice, esta continuação tem unicamente dois pontos que a redimem: os figurinos são tão interessantes que servem de distração para a chatice do filme; e Helena Bonham Carter é uma delícia como a Rainha Vermelha. É provavelmente a única pessoa em toda a equipe que de fato leu o livro de Lewis Carroll – ou pelo menos a única que entendeu o que leu.
Bilheteria mundial: 299 milhões de dólares
OZ: MÁGICO E PODEROSO (2013)
Aí a parada é dura: se para a provável maioria dos espectadores O Mágico de Oz é a fantasia mais linda que existe, para outra parte da plateia (e admito livremente que faço parte dela) o filme de 1939 é a pior viagem de ácido já imaginada pelo cinema. Esta reedição com James Franco, Mila Kunis, Rachel Weisz etc., por outro lado, não desperta sentimentos fortes assim (nem tampouco fracos): é aborrecida, apática e desnecessária.
Bilheteria mundial: 493 milhões de dólares