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Isabela Boscov

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“Maria Madalena”, no centro da história, pouco tem a dizer

Filme com Rooney Mara como a discípula de Cristo pretende ser feminista, mas é só soporífero

Por Isabela Boscov Atualizado em 19 mar 2018, 20h26 - Publicado em 19 mar 2018, 20h02
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  • As locações na região italiana da Puglia são perfeitas em substituição à Galileia árida, pobre e pedregosa do século I, e as roupas de linho rústico tecido a mão são um primor. A trilha dos islandeses Hildur Gudnadóttir e Jóhann Jóhannsson (ele, morto no último dia 9 de fevereiro) é cheia de atmosfera e de ocasionais rompantes emotivos. O elenco de apoio é impecável. Mas Maria Madalena, o segundo longa-metragem do diretor australiano Garth Davis, é um dos filmes mais inertes, sem vida e sem graça já feitos sobre uma personagem bíblica. Ao imaginar Maria Madalena como uma jovem aflita com os horizontes sufocantes de um casamento arranjado que foge da família para seguir Jesus, o diretor e as roteiristas Helen Edmundson e Philippa Goslett falham em tudo: em convencer, em arrebatar, em inspirar e até em manter o espectador acordado. Garth Davis estreou bem, há um ano e meio, com Lion – Uma Jornada para Casa. Mas aqui confunde solenidade com profundidade, e apatia com reflexão. Rooney Mara não ajuda em nada com sua interpretação pálida e parada. Ou ela olha para Jesus (Joaquin Phoenix, também ele uma escolha equivocada) com olhos beatíficos e fala no Reino que se aproxima, ou dá umas piscadas longas, como se fosse cair no sono, para – suponho – transmitir sofrimento (Rooney deve ter também desvio de septo, porque passa a maior parte do filme com a boca entreaberta, como se estivesse precisando de mais ar).

    Maria Madalena
    (Universal/Divulgação)

    Os Evangelhos são brevíssimos nas menções a Maria Madalena. Apenas dizem que Madalena, Maria e outras mulheres seguiam Jesus desde suas perambulações pela Galileia, põem-nas ao pé da cruz e assinalam que Madalena foi a primeira a ver Jesus ressuscitado. O Evangelho de Marcos acrescenta que Jesus havia expulsado dela sete demônios, mas não diz nada sobre as circunstâncias do exorcismo, nem sobre quem ela seria. Bons novelistas e/ou roteiristas não teriam dificuldade em preencher essas lacunas de forma instigante. A principal preocupação do filme de Davis, porém, é retificar o currículo da personagem, que passou à história como uma prostituta arrependida (acredita-se que, lá pelo século VI ou VII, erroneamente fundiu-se a figura de Madalena à da pecadora que lava os pés de Jesus, bagunça que foi sacramentada por um papa e “pegou”). Como se assegurar que ela era moça de família – ainda que inconformada – fosse o dado mais relevante da personagem, ou a transformasse de alguma maneira essencial. Tudo que Maria Madalena consegue é deixar patente como é forçado o intuito de torná-la tão protagonista da história de Jesus quanto ele próprio. Quando Nikos Kazantzakis escreveu A Última Tentação de Cristo e Martin Scorsese o filmou com brilho extraordinário em 1988, ambos se aproveitaram do equívoco sobre o ofício de Madalena para criar uma mulher muito mais corajosa, independente, decidida – e decisiva – do que esta aqui.


    Trailer

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    MARIA MADALENA
    (Mary Magdalene)
    Inglaterra/Austrália, 2018
    Direção: Garth Davis
    Com Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Tahar Rahim, Chiwetel Ejiofor, Denis Ménochet, Ariane Labed, Lubna Azabal, Tchéky Karyo
    Distribuição: Universal

     

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