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Por Coluna
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“Gabriel e a Montanha”: na trilha de um amigo até o destino final

O diretor Fellipe Barbosa combina ficção e documento em um filme que é comovente como homenagem e como road movie

Por Isabela Boscov Atualizado em 3 nov 2017, 18h01 - Publicado em 3 nov 2017, 18h01

Gabriel Buchmann morreu em 2009. Dezenove dias depois de o rapaz carioca ter desaparecido na subida do Monte Mulanje, no Maláui, seu corpo foi encontrado por dois agricultores. Impaciente e julgando mal suas capacidades, Gabriel dispensara o guia local (achara-o lento), perdera-se no mau tempo, a 3 mil metros de altitude, e morrera de hipotermia. Não se está entregando nenhum segredo de Gabriel e a Montanha: é dessa forma, com a descoberta do seu corpo, que começa o filme dirigido pelo seu amigo de colégio Fellipe Barbosa (do muito bom Casa Grande). Gabriel estava a apenas alguns dias de pôr o ponto final numa viagem que já durava quase ano, primeiro pela Ásia e depois pela África, onde percorrera a pé, de carona ou de ônibus o Quênia, a Tanzânia, a Zâmbia e, finalmente, o Maláui. Fora adquirir algum conhecimento em primeira mão do tema do doutorado que iria iniciar logo em seguida, na Califórnia – políticas públicas em regiões de pobreza. Ficava na casa de gente que conhecia pelo caminho, comia a mesma comida e vestia as mesmas roupas (a partir do Quênia, deu para andar de canga colorida e sandálias de pneu, presentes de um amigo masai), e doava pequenas quantias. Viajava quase sem dinheiro, mas descobriu que 10 ou 20 dólares, na África, podiam resolver a vida de uma família por semanas ou meses. Estava eufórico com a experiência. “Meus amigos me chamam de pobrólogo”, diz Gabriel, orgulhoso da sua imersão, à namorada, Cris, durante uma das várias brigas que o casal teve nos dias em que ela o acompanhou num trecho da viagem.

Gabriel e a Montanha
(Pagu/Divulgação)

Um dos aspectos mais interessantes é esse: João Pedro Zappa e Caroline Abras, que fazem Gabriel e Cris, são os dois únicos atores do filme. Todas as outras pessoas em cena são elas próprias, filmadas nos lugares aos quais pertencem e pelos quais Gabriel passou nos seus últimos 70 dias de vida – o masai com que ele se hospedou no Quênia, o guia que quase o carregou até o topo do Monte Kilimanjaro, o guia com que ele brigou feio durante um sáfari fotográfico, o motorista de caminhão que lhe deu carona, o professor da escola rural, a desconhecida que lhe ofereceu refresco na sala de casa. Os personagens reencenam os momentos que viveram com Gabriel e o relembram em narrações em off, numa mistura de memorialismo e balanço; ninguém imagina que o horizonte final de um jovem pode estar próximo, e essa constatação empresta uma beleza especial ao filme – ao mesmo tempo a ideia de um destino incontornável para o qual cada pessoa caminha, e a ideia de uma permanência além de si mesmo. É uma homenagem de quem conhece intimamente seu personagem, e por isso mesmo endereça a ele a maior de todas as formas de respeito – a honestidade. Gabriel, que era alegre e às vezes briguento, curioso para aprender mas às vezes arrogante e cheio de certezas, deixou muitas lembranças lindas, e outras mais amargas. Mas deixou, argumenta o filme de Barbosa, e por isso pode existir depois de ter ido.


Trailer

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https://youtu.be/w9cw1Ntrhqg

GABRIEL E A MONTANHA
Brasil, 2017
Direção: Fellipe Barbosa
Com João Pedro Zappa, Caroline Abras, John Goodluck, Lewis Gadson, Luke Mpata, Rashidi Athuman, Alex Alembe, Rhosinah Sekeleti
Distribuição: Pagu

 

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