Top Gun: Ases Indomáveis
Enquanto Top Gun: Maverick não vem (a estreia foi adiada para julho do ano que vem), fique com o original, um clássico da ação de alta voltagem, da competitividade masculina e – tudo ao mesmo tempo – do brega romântico. Aceito entre a elite da elite do treinamento de pilotagem de caça, Pete Mitchell (Tom Cruise), codinome Maverick, encontra um rival implacável em Iceman (Val Kilmer), um amigo para todas as horas em Goose (Anthony Andrews) e um objeto de paixão na instrutora de voo Charlie (Kelly McGillis). As cenas de “dogfights” com F-14 e F-5 disfarçados de MiG-28 são ainda hoje antológicas (a pedido do diretor Tony Scott, os fabricantes do F-14 desenvolveram suportes especiais para câmeras, de forma a que se pudesse filmar no ar), os maus-bofes entre Tom Cruise e Val Kilmer são reais e nada bate aquela entrada em cena de Take My Breath Away, do Berlin (na verdade, do gênio da música-grude Giorgio Moroder).
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Peter Parker (Tom Holland) está com 15 anos, e com eles vêm não só aquele entusiasmo constante e aquela energia inesgotável, mas também os erros de cálculo típicos da idade: Peter acha que sabe tudo e tudo pode; adultos, mesmo os mais queridos e admirados, nunca entendem, e portanto é melhor nem contar nada para eles – e Peter vai em frente, tentando consertar desastres que, na maior parte, ele mesmo criou, sem atinar com o fato de que certas ameaças são maiores do que suas habilidades. Por exemplo, a ameaça representada pelo personagem de Michael Keaton, que faliu como empreiteiro de obras mas se reinventou como o traficante de armas Abutre. Keaton cria uma corrente subterrânea de raiva – raiva pura, sem diluição e muito humana – que é um contraponto afiado ao entusiasmo e efervescência de Holland. Entre os prazeres de De Volta ao Lar, figuram lá no alto da lista as sensacionais homenagens a Curtindo a Vida Adoidado, o mega-máxi-clássico adolescente de 1986 (não perca a última das duas cenas pós-créditos).
De Volta para o Futuro
O currículo ilustre do diretor Robert Zemeckis inclui Forrest Gump e Náufrago mas, para mim, este filme de 1985 é que é a façanha maior dele: uma bolha de sabão de alegria e imaginação, tão fantasticamente pop que, passados 35 anos, tudo nele continua novo em folha – as aflições de Marty McFly (Michael J. Fox) em sua viagem para o passado (se ele não conseguir fazer com que seus pais se apaixonem, deixará de existir e, obviamente, não poderá voltar para o futuro), o DeLorean que o Dr. Emmett Brown (Christopher Lloyd) transformou em máquina do tempo, a nostalgia por uma década de 50 que só existe dessa forma ideal no cinema e as brincadeiras com as manias dos anos 80, o constrangimento de Marty com a versão jovem e muito assanhada de sua mãe, as tiradas espirituosas que caem todas no lugar certo, na hora certa. A má notícia: a Parte II (bem mais sombria, embora excelente) e a Parte III (deliciosa) não estão disponíveis na Netflix.
Robin Hood
Em sua quinta parceria desde Gladiador, Russell Crowe e o diretor Ridley Scott rumam para a Inglaterra do fim do século XII, quando o reino atravessava toda sorte de convulsão e o ar estava cheio de maus sentimentos – o momento real em que a tradição folclórica situa o alvoroço provocado pelo bom ladrão fictício Robin Hood no condado de Nottingham. O curioso está no enfoque que o diretor dá a uma história tão conhecida: Robin agora é um arqueiro no exército de Ricardo Coração de Leão. Um acaso o coloca de posse da coroa do rei morto e da espada de um de seus cavaleiros, Robert Loxley, que ele promete devolver ao pai deste, Walter (Max von Sydow). A devolução de uma espada valiosa, que poderia muito bem ter guardado para si, fará com que Robin se veja numa situação singular: a pedido de Walter, vai se passar por seu filho. E, portanto, também por marido da viúva de Robert Loxley, Lady Marian – interpretada por Cate Blanchett com majestade e um tanto de traquinagem. (“Nunca entendi por que na lenda ela é sempre tão nervosa e mal-humorada. Achei que faria bem a Marian ter um emprego”, disse a VEJA o diretor, explicando por que colocou a personagem para tocar a propriedade do marido.) Não é Gladiador, claro. Mas dá muito bem para o gasto.
Um Parto de Viagem
Robert Downey Jr. é Peter Highman, arquiteto bem-sucedido, esnobe, arrogante e ansioso pai de um primeiro bebê, que deve nascer em questão de dias. Zack Galifianakis, o sujeito com cara de urso em miniatura de Se Beber Não Case, é Ethan Tremblay – aspirante a ator, tagarela, desleixado, inconveniente e também um desamparado. É obrigatório, claro, que esses dois personagens díspares tenham de enfrentar uma prolongada convivência forçada, em uma viagem de carro do Kansas a Los Angeles, na qual tudo vai dar absolutamente errado. Apesar disso, Um Parto de Viagem surpreende pela nitidez com que esses dois opostos são desenhados, pelos seus traços de personalidade verossímeis (ter à disposição atores como Downey e Galifianakis ajuda, evidentemente) e por deixar, no final, uma sensação incomum em comédias tão desbragadas – a de que um ou outro sentimento genuíno foi flagrado. Há a dose de praxe de vulgaridade, mas o diretor Todd Phillips faz o que pode para não avançar demais o sinal: o filme é concebido para provocar risadas, mas ganha sabor mesmo é por suas pequenas tragédias. Um bom ensaio, portanto, para o Coringa que Phillips fez no ano passado.
Hellboy II – O Exército Dourado
Em tempos imemoriais, uma guerra prolongada entre elfos e seres humanos terminou com uma trégua: o Rei Balor guardou para sempre seu invencível exército de máquinas douradas e recolheu sua espécie em alguma outra dimensão, deixando a terra para os homens. Uma coroa foi quebrada e dividida entre os oponentes, para que nenhum lado pudesse retomar sozinho o conflito – para desgosto do príncipe Nuada, o herdeiro de Balor, que odeia os homens e a destruição e a feiúra de que eles são capazes. Algo acontece então no presente que dará a Nuada a chance de realizar seus planos; e caberá a Hellboy (Ron Perlman), sua namorada, Liz (a adorável Selma Blair), e seu amigo Abe Sapien (o poético homem-peixe interpretado por Doug Jones) frustrar esses planos. O diretor Guillermo del Toro transforma esse enredo em um lamento sobre mundos que têm de desaparecer para dar lugar a outros – um tema clássico que aqui é explorado na atuação inesperadamente repleta de presença, voz e habilidade física do pop star inglês Luke Goss, da dupla Bros, no papel de Nuada. E, como sempre, isso tudo é a matriz sobre a qual Del Toro conjura as imagens impressionantes que povoam sua imaginação: mecanismos de relógios, pessoas que são máquinas antiquadas, monstros que têm os olhos fora do rosto, criaturas que combinam a forma humana a elementos da natureza, seres vindos de tradições diversas do inferno.