Mais de três meses se passaram desde o início da crise causada pelo derramamento de óleo que atingiu o litoral brasileiro e ainda não é possível dizer que ela chegou ao fim. Mesmo em uma cronologia que continua a se estender (a primeira ocorrência de óleo registrada pela Marinha aconteceu no dia 2 de setembro), o almirante de esquadra Marcelo Campos, coordenador operacional do grupo de acompanhamento e avaliação, o GAA, declarou que as investigações realizadas pela Marinha e pela Polícia Federal não descartaram qualquer hipótese sobre o que pode ter acontecido. “Vamos chegar ao autor desse derramamento de óleo”, afirmou. No momento, a Marinha considera que a situação está estabilizada.
O inquérito instaurado pela Marinha é administrativo. Dentro do escopo da força naval, o almirante declarou que foi praticamente descartada a possibilidade de o vazamento ter sido causado por exsudação, quando o óleo aflora em superfície vindo de regiões mais profundas da crosta terrestre, e também é baixa a probabilidade de um naufrágio. Por enquanto, a principal suspeita trabalha com a hipótese de que o derramamento foi causado por um navio em trânsito.
Apesar de terem sido alvo de críticas, Campos defendeu que a Marinha fez tudo o que poderia ter sido feito. “O caso é inédito. O vazamento durou muito tempo e teve grande abrangência, além de ser um material que não deriva na superfície. Se os responsáveis tivessem reportado o acidente, poderíamos ter atuado no mar e com mais eficiência”, explicou. Para o almirante, agora a questão ficará em torno da mitigação do dano ambiental e social. “Nossa ação foi nas praias, para limpar o mais rápido possível. Nesse ponto, os voluntários tiveram um papel de destaque”, disse.
Dentro do GAA, foi ativada uma coordenadoria científica. Com diferentes grupos de trabalho de pesquisadores, um dos esforços foi o desenvolvimento de uma modelagem numérica sobre a dispersão do óleo, com a análise de correntes marítimas diferentes. A partir desse estudo, revelou-se pequena a chance de a mancha passar de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, e alcançar outras praias do Sudeste. Ainda assim, Campos afirmou que a Marinha e as Forças Armadas estão a postos caso o óleo volte a surgir com intensidade em diferentes locais. Novos estudos medirão os impactos socioeconômicos da tragédia.
Além das questões relacionadas às consequências da tragédia, Campos defendeu que o episódio pode servir para melhorar a infraestrutura brasileira para o futuro. “Precisamos que a sociedade brasileira reconheça a importância do sistema de controle de navios. É uma área que carece de maior investimentos e a crise do óleo demonstrou a relevância do setor”, declarou o almirante.