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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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Sorria, você está na VEJA

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 5 jun 2024, 10h56 - Publicado em 2 dez 2013, 11h59

Matheus Pichonelli é o Antônio Prata da Carta Capital, aquela federalíssima revista para a qual a suposta extinção da perereca é mais importante que a prisão dos mensaleiros. Quem reproduz seus perfis de reacionários na internet é Luís Nassif, aquele que o presidente do PT, Rui Falcão, admitiu no Roda Viva ser um de seus militantes virtuais. Quem é obrigado a ler dois deles, conforme denunciou o imprescindível site Escola Sem Partido, de Miguel Nagib, são os alunos da professora Cléo Tibiriçá, na Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC. Quem o acompanha no pacote ideológico-bibliográfico são Leonardo Sakamoto, Silvio Tendler, Chico Buarque, Marcos Bagno, Ruy Braga e demais luminares da democracia padrão Cuba, aos quais os sapos barbudos recorrem quando precisam “aguentar firme”.
 

Em “Medíocres e perigosos”, os alunos da Tia Cléo aprendem com Pichonelli que pouco importa se “rico, pobre ou ex-falido: o reacionário clássico enxerga em tudo o que é diferente um potencial de destruição”. Se isto é verdade, então ficamos assim:
 
– Suzana Singer e Miriam Leitão, que chamam Reinaldo Azevedo de “rottweiller”, condenando a presença dele, de Rodrigo Constantino e de Demétrio Magnoli nos grandes jornais em que escrevem, são reacionárias clássicas.
 
Inácio Araújo, o crítico de cinema da Folha que chama os que divergem dele de “boçais” e “bárbaros”, que “emporcalham a internet com sua ausência de cérebro”, é um reacionário clássico.
 
Paulo Moreira Leite, o diretor da IstoÉ em Brasília que afirma que os colunistas conservadores vieram “para confundir e não para esclarecer” (contribuindo ao mesmo tempo para a confusão ao sugerir que Azevedo, Constantino e Magnoli foram para a extrema-direita) é um reacionário clássico.
 
Mario Abbade, o Bonequinho do Globo para quem o ideal seria que o filme ‘Blood Money: aborto legalizado’ “nunca chegasse” ao Brasil, é um reacionário clássico.
 
– A própria Cléo Tibiriçá, que reagiu à denúncia de sua doutrinação comunista reiterando sua “discordância e consequente desautorização da referida publicação”, é uma reacionária clássica – com o agravante da desautorização como consequência da discordância, o que talvez lhe garanta uma vaga no Procure Saber… Alô, Paula Lavigne!
 
– O próprio Matheus Pichonelli, que chama os reacionários de “perigosos” no título do seu artigo e Tia Cléo de “perseguida” em sua página no Facebook, é um reacionário clássico.
 
E por aí vai.
 
A julgar pela definição de Pichonelli, com o que tem de reacionário clássico entre os esquerdistas contemporâneos brasileiros daria para promover Seminários de Reacionarismo na Fatec o ano inteiro. Ninguém enxerga tão histericamente como eles (“de modo grosseiro, raivoso e estridente”, diria Antônio Prata) “um potencial de destruição em tudo o que é diferente”. A simples presença de um ou dois “diferentes” nos meios onde eles e suas ideias são hegemônicos já é o bastante para soar o alarme. Como Pichonelli não é muito chegado a exemplificar o que diz – o que lhe permite caprichar na caricatura de inimigos imaginários -, Tia Cléo poderia usar os exemplos acima em sala, quiçá explicando aos alunos que ela e o autor seguem a máxima de Lenin: “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”
 
Em “Direitos humanos para humanos direitos”, o reacionário genérico e racista do primeiro artigo – que tem um infarto fulminante quando descobre que a filha namora um negro – ganha o nome de Almeidinha. “O Almeidinha”, segundo Pichonelli, “é aquele sujeito capaz de rir de qualquer piada de português, negro, gay e loira.” Eu também conheço um sujeito assim: chama-se Luiz Inácio “Almeidinha” da Silva. Tia Cléo poderia exibir a seus alunos o vídeo em que o ex-presidente Lula diz que “Pelotas é a cidade-polo… exportadora de veados” – e naturalmente ri da própria piada. Quem ri dessa, convenhamos, ri de qualquer uma. Com tamanha prova do reacionarismo de Lula, Tia Cléo decerto ganharia elogios dos que julgam os governos de transição do PT para o socialismo muito pouco socialistas ainda. Com sorte, conseguiria até uma palestra do PSOL na Fatec, com Marcelo Freixo e Francisco Bosco.
 
A exploração do ressentimento
Mas não deve ter sido de Lula e Lulinha que Pichonelli tirou a ideia de reacionários pais e filhos quererem dividir o território “entre o Brasil do Sul e o Brasil do Norte” para criar “um país à imagem e semelhança de um Almeidinha” (final apoteótico da crônica). O criador do Foro de São Paulo – a entidade que teve sucesso na conquista do poder continental reunindo partidos de esquerda e organizações terroristas da América Latina como as Farc, com o silêncio cúmplice da imprensa brasileira – prefere dividir o país, como se sabe, entre pais e filhos, homens e mulheres, ricos e pobres, brancos e negros, héteros e gays, colonizadores e índios, fazendeiros e sem terra, canalizando todo o ódio existente e instigando todo ressentimento, justo ou injusto, para fazer os segundos se sentirem vítimas dos primeiros, ficarem cada vez mais revoltados e transformarem qualquer humilhação (real ou forjada) que sofrem na vida em uma causa política com um propósito moral elevado, que, no fim das contas, só eleva o caos social, o tamanho do Estado e o poder do Foro, mas garante a boquinha dos Pichonellis, ao menos enquanto os líderes revolucionários não praticam seu esporte secular de executar seus próprios militantes. (Não estou contando Celso Daniel, ok?)
 
No sintomático artigo “Não penso, logo relincho”, ainda não incluído na bibliografia da Tia Cléo, mas quiçá “favoritado” por Antônio Prata, Pichonelli mostra toda a sua competência na função de explorador intelectual do coitadismo e do ressentimento alheios, com uma análise dos supostos clichês reacionários em discussões internéticas… feita naturalmente à base de clichês esquerdistas. Os seres não exemplificados que usam tais e quais argumentos seriam “pessoas que nunca tomaram enquadro na rua nem foram preteridas em entrevistas de emprego sem motivos aparentes”, nunca se perguntaram “por que ninguém acorda em um belo dia e decide estourar uma barra de ferro na cabeça de alguém só porque este alguém gosta e anda de mãos dadas com alguém do sexo oposto”, nunca imaginaram a rotina do sujeito que “no caminho do trabalho, ouve ofensas de pedestres, motoristas e para constantemente em uma mesma blitz que em tese serviria para todos”, etc. etc. etc. É a conspiração dos Almeidinhas contra a paz e o sucesso de negros, pobres e gays.
 
“O curioso”, diria Thomas Sowell, o negro cujos livros Tia Cléo não indica no curso, “é que, em vários países ao redor do mundo, inclusive naqueles chamados de terceiro mundo, vários imigrantes extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não apenas conseguem prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também conseguem enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação afirmativa.”
 
O principal motivo é simples: não há líderes raciais e sociólogos à moda Pichonelli insinuando ou “dizendo diariamente que são incapazes de prosperar por conta própria”, “que eles não têm chance de ascender socialmente”, “e que por isso devem se juntar sob o rótulo de ‘vítimas do sistema’ e exigir políticas especiais e tratamento diferenciado”.
 
Os asiáticos, assim como os judeus, sofrem lá suas discriminações, mas não tiveram quem os convencesse de que exigir um empurrão do governo é mais jogo do que trabalhar em vários empregos, poupar, abrir um pequeno comércio, redobrar o esforço, construir família e atender às expectativas dos pais, que esperam dele resultados, disciplina e dedicação.
 
Mais curioso é que o primeiro clichê caricatural da lista de Pichonelli é “Negros têm preconceitos contra eles mesmos”, quando o naturalmente correto para um conservador seria dizer, como Sowell, que os líderes raciais que “se utilizam das minorias para proveito próprio, atribuindo a elas incapacidades crônicas que supostamente só podem ser resolvidas por políticas que eles irão criar” é que são “os verdadeiros racistas”.
 
Uma simples mãe analfabeta mas estimuladora da perseverança e dos estudos como a do Dr. Ben Carson, o negro pobre e pior aluno da turma que virou o mais bem-sucedido neurocirurgião pediátrico do mundo, vale mais do que milhares de Pichonellis comunitários. Mas Tia Cléo não não pode exibir, por exemplo, o filme “Mãos talentosas” (‘Gifted hands’), que narra a história do hoje ferrenho opositor das políticas assistencialistas e afirmativas de Barack Obama, porque seus alunos aprenderiam que pior do que ser um reacionário “medíocre” é ser um menino chorão que espera uma ajudinha do Estado Babá lendo Carta Capital. E ela não está lá, seguindo a cartilha educacional à moda ONU, para educar ninguém.
 
Ao saber da denúncia do site Escola Sem Partido e de seus dois textos no “index” revolucionário de Cléo Tibiriçá, Pichonelli escreveu no Facebook: “Ganhei o domingo.”
 
Pela alegria que ele me trouxe – como, espero eu, tantos outros impostores intelectuais de esquerda trarão –, rendendo assunto para minha estreia neste Blog, eu não poderia deixar de retribuir, alegrando-o também:
 
Sorria, mané. Você está na VEJA.
 
Felipe Moura Brasil

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