Alberto Cantalice, vice-presidente nacional do PT e coordenador das Redes Sociais do partido, escreve coisas como “diurtunamente”, “o repúdio (…) demonstram” e “a maioria (…) abominam”; usa vírgulas com a mesma destreza com que Dilma canta “Répi Bãrsdei Tu Iul”; e, com aquela mistura de demagogia, vitimismo e intolerância que é a própria essência do PT, ainda ataca os jornalistas “pitbulls do conservadorismo”, “profetas do apocalipse político”, “divulgadores de uma democracia sem povo”, “arautos do caos” e “propagadores do ódio” que “lançam vitupérios, achincalhes e deboches” contra o petismo (que ele naturalmente chama de “avanços do país”).
Mas como não debochar de um petista que, no momento mesmo em que agride o idioma pátrio, diz que “A hora é de renovar as esperanças e acreditar no Brasil”? Como não lhe lançar achincalhes (e como não torcer para que o processem por calúnia e difamação) se o sujeito acusa Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Danilo Gentili, Marcelo Madureira e outros de estimular “setores reacionários e exclusivistas da sociedade brasileira a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior, [esta é uma das vírgulas erradas, ok?] nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes” sendo ele incapaz de citar um só desses que tenha feito tal coisa e se é ele próprio quem no mesmo texto maldiz os ricos, fomentando o ódio de classe? Como não vituperar (no sentido de desaprovar, desprezar) o homem que critica os “xingamentos torpes e vergonhosos à presidenta Dilma” em um “deprimente espetáculo dos vips” na estreia do Brasil na Copa, ao mesmo tempo em que mente sobre os adversários com os autênticos modos do cinismo petista?
Impossível. Nota-se que os militantes analfabetos conhecidos como MAVs (da Mobilização em Ambientes Virtuais do PT), que infectam as seções de comentários dos nossos blogs e Facebooks, tiveram um chefe a quem puxar. O exemplo vem sempre de cima – e o método, da União Soviética mesmo. Stalin mandava fuzilar um milhão de pessoas e, ao mesmo tempo, escrevia em editorial do Pravda de 1935: “De todos os ativos do mundo, gente constitui o capital mais valioso e decisivo”. Agora o PT lança sua ofensiva bolivariana contra jornalistas para que possa decretar seus golpes sem ter quem os denuncie, fazendo da mídia inteira um grande Brasil 171, quiçá com editorial (estou inventando, ok?) de Cantalice: diurtunamente [sic], o partido demonstram [sic] total tolerância a [sic] divergência. Hugo Chávez fechou a emissora RCTV inteira em 2007, mas o negócio do PT, enquanto controla as emissoras que pode com verbas estatais, é calar um por um os formadores de opinião independentes fora ou dentro delas, como mostra o caso Sheherazade. O desespero ante o risco de perder as eleições só acentua o stalinismo petista.
O episódio da semana é Cantalice no país das armadilhas (aquelas que levaram à morte seu partidário Celso Daniel). O partido de Lula é assim: agride a pluralidade tanto quanto os plurais.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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