Felipão, na entrevista coletiva após a vitória do Brasil por 3 a 1 sobre a Croácia na estreia da Copa, atribuiu à torcida o suposto não abatimento do time ao sair atrás no placar.
A torcida pode até ter colaborado para evitar o desespero completo dos jovens jogadores, e a delegação brasileira faz muito bem em se precaver contra vaias e demais pressões estimulando os torcedores a ficar do lado da seleção mesmo nas adversidades, mas o fato é que o time se abateu, sim, por 7 ou 8 minutos, pelo menos, como o próprio Felipão deu a entender, e a afobação resultante dificilmente seria contida não fosse a serenidade de Oscar, que limpou três croatas e praticamente disse a Neymar no lance do gol de empate: “Vai, garoto. Mas vê se aprende a limpar sozinho os três que tão te marcando também.”
(Depois do jogo, Neymar diria quase envergonhado que o chute de esquerda de fora da área saíra muito fraco, mas na direção certa.)
O previsivelmente imprevisível Daniel Alves, que resolvera dar o bote no goleiro Pletikosa e deixara assim uma avenida na lateral-direita da seleção para o contra-ataque croata que resultou no gol contra de Marcelo, é apenas um dos que deveriam ter uma aulinha de “Como ser mais sereno” com o Tio Oscar, embora este seja um traço de personalidade – como se nota em qualquer entrevista com o jogador do Chelsea – difícil de ser transfundido em sangue alheio.
A seleção croata se mostrou tão mais inteligente que a brasileira desde o início que até a furada de bola de Jelabic no lance do gol contra se revelou friamente calculada… de modo que Felipão ainda tem muito serviço pela frente – e palmadas a dar, com a licença da Xuxa – se quiser chegar à final. Apesar de colaborar na marcação, Hulk, que precisa de uma aulinha de proteção de bola com o Tio Oscar e, junto com Paulinho, de chute a gol com o Tio Neymar, errou tudo – e somente aos 46 minutos do primeiro tempo, chegou a notícia de que Fred estava em campo.
Uma notícia que só seria lembrada após o fim do jogo em função de seu teatro na área no segundo tempo, quando o Brasil já predominava, mas sem conseguir furar a retranca. O pênalti marcado pelo juiz Yuichi Nishimura e convertido por Neymar (apesar da espalmada de Pletikosa) deixaria dúvidas por todo o Brasil. É com “i” ou com “y”? Com ou sem acento?…
Por conta da sensação moralmente desagradável de “ganhar roubado”, muitos dir-se-iam aliviados depois com o terceiro gol do Brasil, o primeiro de Oscar, que avançou pela meia-esquerda e finalizou de biquinho à moda Romário. Mas isto é apenas fruto do otimismo cego brasileiro, neste caso não apenas porque a seleção croata foi injustamente obrigada a partir para o tudo-ou-nada deixando uma avenida à moda Daniel Alves para o ataque brasileiro, como também porque Ramires roubara a bola que iria parar nos pés de Oscar cometendo falta não marcada pelo nosso Nishimura…
Nada, porém, que tire o mérito da jogada do verdadeiro craque da partida (o oficial foi Neymar), cuja maior lição para o futebol brasileiro, apesar de tudo, nada teve a ver com seu gol nem com seus dribles. No “scout” da delegação, como bem observou Felipão, Oscar foi o jogador que mais roubou bolas. Depois do fracasso da seleção de 1982, a crença de que o futebol-arte precisa ser compensado com um monte de trombadores prosperou no Brasil e a marcação passou a ser vista como função de trogloditas, de modo que o exemplo do quase franzino Oscar neste sentido – para o qual Luiz Gustavo e Thiago Silva colaboram – também tem de ficar claro: desarme não é grosseria, mas uma técnica que pode ser tão sutil e plástica quanto um belo drible.
“Apesar de eu não ter feito o meu melhor nos amistosos, todo mundo sabe que na Copa eu ia dar meu máximo, como eu dei hoje aí”, disse Oscar após o jogo.
Sereno, como sempre. Sereno, como o Brasil raramente sabe ser.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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