Fernandinho Beira-Mar já cumpre pena de mais de 200 anos de detenção por diversos crimes.
Acusado, também, de ter liderado um ataque de 20 criminosos a uma facção rival, em 2002, dentro do presídio de Bangu I, o traficante disse durante julgamento no Fórum do Rio que é inocente neste processo.
“Eu cometi vários crimes. Nesse, eu sou inocente.”
A frase me lembrou a de Paulo Maluf sobre o esquema de corrupção da Petrobras:
“Nesta operação não tenho nada.”
Pois é.
Beira-Mar costumava se apresentar como comerciante ou pecuarista, mas, à sua maneira, assumiu pela primeira vez ter sido traficante.
“Era matuto [responsável por abastecer as facções com armas e drogas]. Era pecuarista graças às vendas de entorpecentes.”
Beira-Mar é o “pecuarista de coisa ilícita”. Profissão em alta no Brasil.
O traficante Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, foi a única testemunha em sua defesa ouvida nesta quarta-feira.
Ele pertencia à quadrilha dos quatro criminosos assassinados há 13 anos e estava na mesma galeria dos comparsas, mas foi poupado.
“Vim aqui, como testemunha dele, para pagar a dívida, por terem me deixado vivo”, disse Celsinho, sob olhar e sinais de concordância de Beira-Mar.
“Fiquei com dívida. Fiquei vivo. O cara não me fez mal”, afirmou ele, antes de falar que Beira-Mar não participou da ação.
O momento mais tragicômico do julgamento veio depois.
Celsinho ironizou a qualidade da penitenciária durante uma das perguntas, em que Bangu 1 foi citado como “presídio de segurança máxima”.
“Segurança máxima é brincadeira, né?”, debochou, provocando risos.
Eu estou rindo até agora.
No país da piada macabra, os bandidos debocham do Estado até nos tribunais.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil
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