O Oscar 2023 foi marcado pela representatividade asiática. Recordista de indicações da noite com chances em onze categorias, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, filme protagonizado por atores asiáticos e com uma história centralizada em uma família de imigrantes chineses nos Estados Unidos, abocanhou sete estatuetas: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz, melhor ator e atriz coadjuvantes, roteiro original e montagem. Favorita ao prêmio de melhor atriz, Michelle Yeoh conquistou o troféu por sua performance no longa do estúdio A24, sendo a primeira amarela a conquistar tal feito.
As atuações de Michelle Yeoh e Ke Huy Quan, e a direção de Daniel Kwan (em parceria com Daniel Scheinert) por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo representam trabalhos afiados, e o reconhecimento por tais figuras atesta uma nova tendência do mercado cinematográfico: Hollywood está se curvando de vez ao soft power oriental.
Logo no começo da noite, Ke Huy Quan faturou o Oscar de melhor ator coadjuvante, com direito a um discurso emocionadíssimo. Além dos atores do grande filme vencedor da noite, Hong Chau foi indicada à estatueta de atriz coadjuvante por sua participação em A Baleia. As quatro indicações representam o recorde de indicações de atores originários da Ásia em uma edição da premiação, superando as três de 2004, que incluía os atores indianos e iranianos Ben Kingsley e Shohreh Aghdashloo (ambos por Casa de Areia e Névoa) e o astro japonês Ken Watanabe, de O Último Samurai.
O Oscar 2023 destacou uma safra abundante profissionais amarelos, de cineastas a músicos, além de roteiristas, intérpretes, especialistas em animação, figurino e maquiagem. Pela primeira vez, a Índia foi indicada três vezes. O documentário indiano Tudo O que Respira perdeu para o ruso Navalny, mas seu “irmão” venceu o melhor documentário curto, com Como Cuidar de um Bebê Elefante (disponível na Netflix). RRR (Revolta, Rebelião, Revolução) conquistou não só o prêmio de melhor canção por Naatu Naatu, como também a plateia com uma bela apresentação.
Ver tantos asiáticos reconhecidos pela Academia alegra os cinéfilos que clamam por maior diversidade nos filmes americanos. Em contrapartida, o Oscar deixou de mostrar o mesmo apreço por outras minorias. Nenhum ator negro foi indicado nas categorias principais de atuação, e a ausência de diretoras na corrida pela estatueta de melhor direção também ficou evidente. Apesar disso, a noite foi dominada pelos asiáticos com razão. Além das vitórias merecidas de Michelle Yeoh e Ke Huy Quan atenderem uma demanda inevitável por diversidade –o que agrada muito na atualidade, o reconhecimento de artistas não-brancos, mesmo que tardio, só exalta a potência de uma tendência mercadológica também crescente: o público asiático é essencial para se fazer ainda mais dinheiro. Para os Estados Unidos, é sempre importante lucrar.