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Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
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O que esperar da adaptação do best seller É Assim que Acaba para o cinema

O filme repete com eficácia a fórmula do livro da americana Colleen Hoover: mesclar temas caros ao feminismo com clichês açucarados

Por Kelly Miyashiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 ago 2024, 09h30 - Publicado em 9 ago 2024, 06h00
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  • A memória mais antiga da americana Colleen Hoover, atualmente com 44 anos, é de quando tinha 2 anos e meio e viu seu pai arremessar uma televisão contra sua mãe, Vannoy Fite, que caiu no chão com o impacto. Após uma série de agressões perdoadas — antes de Colleen completar 3 e a filha mais velha chegar aos 5 —, a mulher decidiu abandonar o marido abusivo e recomeçar sua vida como mãe solo, mesmo que isso significasse passar por dificuldades financeiras e sobreviver de macarrão e feijão enlatados. Curiosamente, o pai da escritora nunca encostou um dedo nela e em sua irmã, e a americana nascida na cidade de Sulphur Springs, no Texas, hoje considera o genitor um bom pai — algo que só foi possível porque sua mãe rompeu o ciclo de violência antes que as rebentas tomassem como referência de amor o relacionamento tóxico que ela vivia.

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    É Assim que Acaba – Colleen Hoover

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    Com toques rocambolescos e arcos romantizados, a história da mãe inspirou Colleen a escrever É Assim que Acaba, romance publicado em 2016 que hoje figura no topo do ranking de best-sellers do New York Times e está há 150 semanas nos Mais Vendidos de VEJA. De acordo com a Forbes, a obra já teve 6 milhões de cópias comercializadas no mundo. “Eu quis escrever esse livro como forma de honrar a história da minha mãe”, explicou Colleen em entrevista a VEJA (leia a entrevista).

    É Assim que Começa – Colleen Hoover

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    As vendas devem ser ainda turbinadas com a estreia de sua adaptação para as telas. Já em cartaz nos cinemas, É Assim que Acaba traz Blake Lively e Justin Baldoni como intérpretes de Lily Bloom e Ryle Kincaid. Na história, Lily, aos 30 e poucos, processa ao mesmo tempo o luto da morte do pai, que batia na mãe, e o trauma das agressões presenciadas na infância. Com o dinheiro da herança deixada por ele, a mocinha abre uma floricultura em Boston, onde espera reencontrar o amor da adolescência, Atlas (Brandon Sklenar), mas acaba conhecendo o charmoso neurocirurgião Ryle, por quem se apaixona. Após viver um conto de fadas e se casar com o médico rico, vem a reviravolta: com um ciúme doentio, o príncipe encantado se prova tão abusivo quanto o pai dela, e a protagonista se vê em uma encruzilhada ao perceber que está repetindo os comportamentos submissos da mãe — e está grávida.

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    Verity – Colleen Hoover

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    Assim como o livro, o filme bebe de diálogos rasos e cenas constrangedoras, mas ambos cumprem sua função básica: a de captar atenção com uma história adocicada que flerta com temas caros à agenda feminista. O artifício de ganchos provocativos que fazem o leitor devorar seus livros é comumente usado pela autora em suas obras, como na sequência É Assim que Começa e em Verity. Para além desse apelo, suas obras bombaram de vez graças a uma tendência nascida na pandemia. Em 2020, quando o fenômeno booktok surgiu no TikTok, influenciadores literários passaram a indicar em peso os livros de Colleen. “Não quero dizer que algo bom saiu da pandemia, mas o fato de que pessoas estão lendo mais é uma coisa boa”, analisa a autora, que hoje ostenta uma fortuna estimada em 10 milhões de dólares só com a venda de livros e desbancou J.K. Rowling, autora de Harry Potter, como escritora preferida entre jovens adultos.

    Apesar do inegável triunfo comercial, as obras de Colleen não são lá um primor em matéria de literatura, óbvio. Suas histórias são um corolário de clichês: há pencas de homens complicados de beleza surreal, romances mornos — e, o pior, dilemas que floreiam temas sérios como luto e agressão à mulher. Ainda assim, seus fãs mais renhidos — autointitulados cohorts — a enaltecem por fazê-los voltar a ler. Se o dom de envolvê-los vai se repetir no filme, é pagar para ver.

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    Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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