Uma estudante chamada Maria engravida deixando seu namorado, o taxista José, com quem não tinha tido relações, irritado. Isso até um tal tio Gabriel aparecer em cena dizendo que o ocorrido era plano de Deus. O paralelo direto com a trama bíblica sobre a mãe de Jesus conduz o filme Eu Vos Saúdo, Maria, do diretor franco-suíço Jean-Luc Godard — que morreu nesta terça-feira, aos 91 anos. Lançado na Europa em 1985, o filme irritou a Igreja católica e até o papa João Paulo II, provocando uma mobilização para que a produção fosse censurada por aqui. A prática da censura já havia sido abolida com a redemocratização, mas o então presidente José Sarney atendeu ao pedido dos religiosos e proibiu a exibição do filme, com o argumento de que iria “assegurar o direito de respeito à fé da maioria dos brasileiros”.
Após os anos duros de repressão militar, a atitude exagerada causou repúdio de intelectuais e do ministro da Justiça da época, Fernando Lyra. O barulho atrasou a chegada de Eu Vos Saúdo, Maria no país, que acabou estreando em 1988. E adivinhem só? Poucas pessoas assistiram, nada de mais aconteceu, e o Brasil continuou bastante católico. Hoje, o filme pode ser visto pela plataforma de streaming Globoplay.