Avatar: o Caminho da Água é um retrato de sua paixão pelo oceano. Sabe explicar o que o atrai tanto nesse ambiente? É uma pergunta difícil, só sei que amo estar embaixo da água. Tenho a curiosidade científica de saber o que há naquele lugar, mas também sinto algo zen, meditativo. O coração desacelera e a atenção muda quando se está mergulhando. Eu já passei mais de 5 000 horas debaixo d’água — cerca de 600 horas delas em submarinos. O oceano é a minha igreja, onde eu entro em comunhão com a natureza.
Os Na’vi representam populações indígenas. Qual sua relação com povos nativos? Eu sempre me interessei por povos originários e pesquisei muito antes do primeiro Avatar. Quando o filme saiu, lideranças indígenas de diversos países entraram em contato e disseram: “Essa é a nossa história”. Então me encontrei com várias delas, especialmente na Amazônia. Fui muito bem acolhido pelos caiapós. Lutei ao lado deles para defender as terras indígenas de Belo Monte — história que, aliás, guarda semelhanças com Avatar. Infelizmente, como no filme, não conseguimos impedir a destruição da natureza para a construção da usina.
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Se o primeiro Avatar remete a Belo Monte, há alguma comparação do tipo para o segundo filme? Todos os lugares do mundo onde o oceano está sob ataque. Seja no Pacífico ou no Atlântico, onde as baleias estão em perigo por várias razões, como a pesca predatória. A Grande Barreira de Corais na Austrália está embranquecida, o que a deixa mais fraca. Avatar é meu protesto contra a devastação do meio ambiente. Espero que esse filme ajude as pessoas a se conectarem com o oceano.
O senhor já foi chamado de “salvador do cinema”, por ter atraído um público em massa às salas. Seria mais correto dizer que sua intenção é ser o “salvador do planeta”? Não sou salvador de nada. Avatar foi vanguardista para o 3D, que hoje se normalizou. Também não sou líder de uma ideologia. Sou só um cara que faz os filmes a que gostaria de assistir. É apenas entretenimento, mas acho ótimo se a pessoa sair do cinema refletindo sobre o que temos hoje ao nosso redor — e que este planeta ainda é nossa única opção para viver.
O cenário para o cinema hoje é muito distinto daquele de 2009: o streaming domina, o 3D virou lugar-comum e a indústria ainda se recupera da pandemia. Como o novo Avatar se encaixa nesse momento? É um momento desafiador, por causa da pandemia, e não do streaming. O cinema já passou por competições outras vezes, com o rádio, a TV, o DVD. Mas nós gostamos de nos reunir, e o cinema proporciona isso. É um momento oportuno para esse filme, pois ele foi feito como uma experiência para ser vista na tela do cinema.
Uma curiosidade sobre o novo filme é o retorno da atriz Sigourney Weaver, que tem 73 anos, na pele de uma adolescente. Como veio a ideia? Ela não gostou de ter morrido no primeiro filme. Mas eu falei: seu avatar não morreu. Então, partimos daí para a criação dessa nova personagem. Ela ficou na dúvida quando perguntei se toparia interpretar uma adolescente de 15 anos. Mas eu sabia que daria certo, porque no fundo Sigourney é uma menina de 15 anos.
Avatar revolucionou o cinema 3D. Qual será o legado técnico de O Caminho da Água? A indústria luta para fazer cenas aquáticas realistas. Nós descobrimos como. Quem assistir ao filme ficará fascinado com a sensação de estar ali no mar. Uma magia agora possível.
Publicado em VEJA de 14 de dezembro de 2022, edição nº 2819