Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana

Em Cartaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca
Continua após publicidade

Guel Arraes: um ex-diretor da Globo no fogo cruzado da polarização

Ele se prepara para lançar um 'Grande Sertão: Veredas' ambientado numa favela

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h06 - Publicado em 24 jun 2022, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Entre as memórias que preserva do pai, o cineasta Guel Arraes ressalta uma apoteótica: “Lembro de olhar pela janela de casa, quando ele virou governador de Pernambuco, e ver milhares de trabalhadores gritando o nome dele. Imagina isso na cabeça de um menino de 10 anos?”. Guel é o quarto de oito filhos de Miguel Arraes (1916-2005), proeminente político pernambucano que não só arrastou multidões no passado como, ainda hoje, paira sobre o estado, representado por herdeiros que entraram para a vida pública (e até brigam entre si nas urnas). Na contramão de boa parte da família, em um desafio de contornos freudianos, Guel saiu da sombra do patriarca. “Queria fazer algo que me causasse a mesma empolgação que eu via nele. Encontrei isso na arte — que também é uma expressão política”, disse o cineasta em entrevista a VEJA.

    Hoje aos 68 anos, Guel é peça incontornável da história da TV e do cinema nacionais — posição atingida graças ao domínio de uma técnica engenhosa: da sátira ao drama, ele retrata com primor as delícias e as agruras de ser um brasileiro. Mais notável é o modo como faz isso sem cair nas armadilhas da polarização — nem pender para a nebulosa área dos isentões. Em breve, essa habilidade passará por um teste de fogo: ao lado de seu parceiro criativo, o roteirista Jorge Furtado, Guel vai lançar uma adaptação atual, e com alto teor de crítica social, de Grande Sertão: Veredas. A obra de Guimarães Rosa vai se passar numa favela carioca em guerra com a polícia. E o memorável Diadorim será não binário, como o próprio livro sugeria antes de o termo existir.

    CLÁSSICO ATUAL - Cena do novo Grande Sertão: Veredas: violência enraizada -
    CLÁSSICO ATUAL - Cena do novo Grande Sertão: Veredas: violência enraizada – (Helena Barreto/Globo Filmes/.)

    O filme, que posteriormente será uma minissérie na Globo (ambos sem data de estreia), atesta a resiliência do livro de 1956 ao tempo e a profundidade dos problemas enraizados no Brasil. Para o cineasta, a obra de Guimarães já continha a tríade que originou o gênero nacional conhecido como favela movie: violência urbana, corrupção e influência religiosa. “O problema sociopolítico virou uma questão artística. Mas se nem a direita nem a esquerda sabem o que fazer com a violência brasileira, querem que a gente resolva?”, pondera.

    Auto da compadecida

    O diretor, contudo, não se resigna ao papel de mero observador. Para ele, a análise ética do problema vem acompanhada de empatia. O melhor exemplo é a popular adaptação de O Auto da Compadecida, de 2000. Na trama de Ariano Suassuna, a comédia é o recurso que cria o laço do público com as malandragens de dois nordestinos pobres. Em paralelo, a hipocrisia de membros da Igreja e da dita família tradicional corre solta. Por fim, Fernanda Montenegro no figurino de Nossa Senhora apazigua os ânimos no Além narrando a nada fácil vida dos pecadores da cidade.

    Continua após a publicidade
    EMPATIA - Fernanda Montenegro em O Auto da Compadecida (à esq.) e cena do filme Vai Dar Nada (à dir.): humor como ferramenta para expor mazelas -
    EMPATIA - Fernanda Montenegro em O Auto da Compadecida (à esq.) e cena do filme Vai Dar Nada (à dir.): humor como ferramenta para expor mazelas – (Tv Globo; Fabio Rebelo/Paramount+/.)

    A abordagem se repete em Vai Dar Nada, o primeiro filme da dupla Guel e Furtado para o streaming, lançado em maio pela Paramount+. A trama cômica se passa em um desmanche no Rio, epicentro de uma treta entre traficantes e policiais causada por um jovem malandro que só queria uma boa moto para conquistar uma garota.

    Grande sertão: veredas

    A estreia do pernambucano no streaming reflete as mudanças recentes no audiovisual. Guel foi um dos criadores do humorístico TV Pirata, nos anos 1980 pós-ditadura. Na Globo, estabeleceu o padrão das séries — de A Grande Família a O Bem Amado —, adicionando novo tempero à rotina noveleira do país. Em 2018, deixou o comando das séries da Globo para atuar de forma independente. Sua renovação agora é aprofundada pelas plataformas, que impulsionaram as produções nacionais com investimento estrangeiro no momento em que a “guerra cultural” bolsonarista minou os incentivos públicos. “O cinema brasileiro é lindo e a TV é forte, só nosso governo não vê”, critica ele. Eis um diretor sem medo do fogo cruzado.

    Continua após a publicidade

    Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795

    CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

    Como o Coringa se tornou, erroneamente, um símbolo reacionárioComo o Coringa se tornou, erroneamente, um símbolo reacionário
    Auto da compadecida
    Continua após a publicidade
    Como o Coringa se tornou, erroneamente, um símbolo reacionárioComo o Coringa se tornou, erroneamente, um símbolo reacionário
    Grande sertão: veredas
    logo-veja-amazon-loja
    Continua após a publicidade

    *A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.