Após passar sete dias no cativeiro nas mãos de sequestradores, Patricia Abravanel (Polliana Aleixo) retorna para casa — e seu pai, Silvio Santos (Rodrigo Faro), acredita estar novamente seguro com a filha em sua mansão no Morumbi, em São Paulo. Só que não: num lance surreal, um dos sequestradores da filha invade sua residência e faz a família Abravanel refém em um novo sequestro. Na mira do revólver de Fernando Dutra Pinto (Johnnas Oliva) e com medo de morrer, o empresário dono do SBT reflete sobre a própria vida, entre os erros e acertos que o levaram a se tornar a figura inescapável da TV nos domingos. A história aconteceu na vida real, mas o filme Silvio, lançado nos cinemas nesta quinta-feira, 12, imagina os diálogos que teriam se dado entre o apresentador e seu sequestrador na cozinha do dono do SBT em 30 de agosto de 2001.
Estrelado por Rodrigo Faro — apresentador que voltou a atuar como ator após quinze anos apenas para o projeto — e dirigido por Marcelo Antunez, Silvio exibe a triste coincidência de ser lançado apenas quase um mês após a morte do apresentador, aos 93 anos, em 17 de agosto passado. Ironicamente, o apresentador não poderá conferir o resultado do filme idealizado como uma homenagem a ele ao revisitar sua história cheia de vitórias, mas também calcada em certas falhas como pai de família. Em duas horas intermináveis, o longa usa o sequestro de Silvio Santos como fio condutor de uma provável reflexão do comunicador sobre a própria trajetória. Acaba sendo, contudo, um retrato caricato que transforma um episódio sério em cômico, com atuações medíocres, diálogos sofríveis, um roteiro pouco palatável e uma montagem confusa.
O filme abusa da liberdade criativa e poética ao utilizar o episódio do sequestro como pretexto para especular outra coisa: que o empresário queria sobreviver porque precisava consertar as coisas com Cintia, sua filha primogênita e fruto do casamento com Maria Aparecida (Màrjorie Gerardi), união que notoriamente escondeu para não decepcionar as fãs que o viam como galã da TV. Em adição a isso, a trajetória de Silvio transcorre na tela de forma rasa e burocrática.
É impossível detectar uma boa atuação no filme: todos os atores parecem saídos de programas como A Praça É Nossa ou Zorra Total. A ambição da produção em escalar Rodrigo Faro para a tarefa de interpretar Silvio Santos — um trabalho periclitante por si só — revela-se, como era de esperar, um tiro n’água. Apesar do esforço, Faro não convence — e a caracterização com maquiagem e peruca beira o ridículo.
Com as constantes idas e vindas entre passado e presente, a montagem também se mostra confusa. Para completar o pacote, é entremeada de cenas que tentam humanizar o sequestrador Fernando Dutra Pinto excessivamente, colocando-o no lugar de criança admiradora de Silvio Santos.
Mas o maior pecado em Silvio é, sem dúvida, o uso desenfreado de frases de efeitos. São policiais, filhas, políticos, o sequestrador e o próprio Silvio disparando uma metralhadora de platitudes manjadas que têm a pretensa função de realçar a importância do apresentador como fenômeno da comunicação popular, mas viram apenas um acessório narrativo pomposo e vazio. No meio da tensão de dezenas de policiais na sala de estar de Silvio, com rifles apontados para Dutra — que por sua vez tinha uma arma pressionada sobre a cabeça do apresentador –, uma paramédica que atendeu o sequestrador encontra calma e empolgação para dizer ao apresentador: “Minha avó é sua fã.” Se quiser saber mais sobre Silvio Santos, leia a Wikipedia, busque vídeos antigos no YouTube ou o que mais estiver ao alcance. Só não conte que aprenderá algo mais sobre ele com a nova cinebiografia. Silvio não precisava disso.
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