Sinônimo de glamour, o Festival de Cannes dará início à sua 75a edição na noite desta terça-feira, 17, com convidados no mínimo inusitados: uma horda de zumbis. O filme de abertura do evento será Coupez!, do cineasta Michel Hazanavicius (de O Artista), remake do japonês Mortos (2017), protagonizado pelos monstrengos que fazem sucesso no cinema e na TV. Na mesma noite, uma exibição especial de O Show de Truman vai honrar o filme americano que estampa o cartaz deste ano do festival. Já na quarta, 18, Tom Cruise promete desfilar pelo tapete vermelho da festa na premiére mundial de Top Gun: Maverick, novo filme do astro de ação.
A reunião de elementos pop não é novidade ao festival, que, para além de ser um reduto de filmes autorais e produções-cabeça, é, também, um espaço de celebração do cinema – inclusive do tipo que é puro entretenimento. Este ano, contudo, o que era um detalhe colorido do evento se tornou uma necessidade. Abalado desde 2020 por causa da pandemia, que cancelou uma edição e minou a do ano seguinte, o Festival de Cannes, agora, volta à sua rotina normal — ou quase normal, não fosse por dois detalhes.
O mais grave, claro, é a guerra entre os vizinhos europeus Rússia e Ucrânia. Em uma realidade tão dura e tão próxima, os franceses devem promover protestos para se mostrar conectados com o mundo longe do tapete vermelho. O festival vai exibir, ainda, o filme do cineasta ucraniano Mantas Kvedaravicius, morto aos 46 anos no combate contra a Rússia em Mariupol no mês passado.
Já a segunda pedra no sapato do evento é a velha implicância de Cannes com o streaming — que culminou com a Netflix fora de seu cardápio desde 2018. As plataformas que foram o respaldo dos estúdios enquanto as salas de cinema estavam fechadas explodiram em relevância nos últimos anos, mas continuarão esnobadas pelos franceses.
Para tapar o buraco da ausência da maior plataforma de streaming do mundo, Cannes vai abraçar Hollywood sem medo. Passarão pelo evento filmes com elencos estrelados, como Armageddon Time, com Anne Hathaway e Robert De Niro, e Elvis, cinebiografia do cantor assinada por Baz Luhrmann. O intuito é aliar relevância e popularidade para, assim, atestar também sua razão de ser