Norman Reedus estava em Paris, filmando a série Daryl Dixon, spin-off da popular The Walking Dead, quando conheceu o diretor Jeff Nichols, que lhe apresentou o roteiro de O Clube dos Vândalos. A filme parecia feito sob medida para Reedus – mas também poderia ser uma armadilha: o ator conquistou o público da série de zumbis como Daryl, o motoqueiro de cabelo comprido e roupa de couro, mesmo figurino e veículo que ele deveria usar no filme sobre um grupo de aficionados por motos que acaba se tornando uma gangue. O americano de 55 anos, contudo, não teve medo de ficar “marcado” pelo tipo. “No fundo, os dois são bem diferentes”, garante Reedus a VEJA.
Na produção que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 20, ele interpreta Funny Sonny, um anarquista californiano, sem eira, nem beira, que vive sobre uma Harley-Davidson remendada viajando pelo país. Ele vai até Chicago conhecer os Vândalos, clube fundado por Johnny (Tom Hardy) e do qual fazem parte outros rebeldes fãs de moto – representados por um elenco estrelado, com Austin Butler e Michael Shannon entre eles. “Quando peguei o roteiro e vi os atores que fariam os papéis, falei para o Jeff: ‘tem muitos homens bonitos aqui, posso destoar deles?’”, conta Reedus, bem-humorado. O pedido foi atendido: Funny Sonny tem a barba grande e mal feita, cabelo bagunçado, um óculos riponga e dentes sujos e tortos – esse último elemento foi encomendado pelo ator à equipe de The Walking Dead, que possui um exímio departamento de maquiagem responsável por transformar humanos nas tenebrosas criaturas mortas-vivas.
O galã inesperado de The Walking Dead
Reedus não é do tipo que cospe no prato em que comeu. Enquanto muitos atores fazem de tudo para se desvencilhar de papéis marcantes da TV, ele, por outro lado, faz o que quer e o que gosta – e seu afeto por The Walking Dead está neste balaio. Após onze temporadas sendo parte do elenco principal e mais longevo da série, o galã inesperado até ganhou um derivado para chamar de seu: batizado com o nome de seu personagem, Daryl Dixon virou um sucesso entre os fãs ao mostrá-lo vagando por uma Paris devastada por zumbis enquanto tenta salvar um garoto especial. A atração deu tão certo que já tem uma segunda temporada encomendada.
“Eu não podia ter trabalhado tantos anos neste personagem para deixá-lo sem um fim apropriado”, diz Reedus sobre a razão que o levou a continuar neste universo. “A melhor parte de participar de uma série de TV tão longa é que o público acompanha seu amadurecimento, pessoal e do personagem. É um experimento social estranho. Não é como um filme, que depois de duas horas você sai do cinema e acabou. Na TV, a gente entrava aos domingos nas casas das pessoas e elas nos esperavam para isso. A gente se torna parte da família. O público se interessa por você, por quem você beija ou briga, é quase interativo.”
Paixão por motos
Fora da série, ele continua rodando por aí. “Eu tenho doze motocicletas”, conta ele, que apresenta no canal americano AMC o reality Ride with Norman Reedus, no qual viaja com o veículo na companhia de outras celebridades. A paixão é antiga. “Quando entrei no ensino médio conheci um garoto chamado Tom. Ele era divertido e rebelde. Andava numa moto YZ 80. Ele me deixava andar nela e a gente revezava, às vezes até fugíamos da polícia”, conta. “A moto nos dá uma ideia de liberdade”, analisa o ator. “Dá para sentir o cheiro da estrada, da cidade, da gasolina. No carro, ficamos preso no ar condicionado.”
Quando entrou para o elenco de The Walking Dead, em 2010, soube que seu personagem deveria andar a cavalo – e logo deu um jeito de mudar os planos da produção. “Eu tinha acabado de fazer um filme com Robert Redford [Conspiração Americana], no qual eu tinha que fazer uma cena em cima de um cavalo. Foi horrível. Eu morro de medo. Então, no set de TWD eu vi uma moto e perguntei: ‘de quem é?’. Me responderam que seria do irmão de Daryl, então eu disse: ‘quero uma também, se eles são irmãos, aprenderam a andar de moto juntos’.” O pedido foi consentido. Mas, qual a lógica de ter medo de um cavalo e não de uma moto em alta velocidade? “O cavalo é um ser vivo, não tenho controle. A moto sim”, analisa Reedus.