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Como o ativismo de Fafá de Belém culminou no ótimo filme ‘Manas’

Exibido no Festival do Rio após ser premiado em Veneza, produção conta história de famílias da Ilha do Marajó

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 out 2024, 16h06

A cineasta brasiliense Marianna Brennand saiu do Festival de Veneza deste ano com um feito: ela se tornou a primeira brasileira a conquistar o prêmio de direção da mostra paralela Giornate Degli Autori com seu longa de estreia de ficção, o drama Manas. Logo, ela desembarcou nesta semana no Festival do Rio com a moral alta, enquanto seu filme transita entre os favoritos ao principal prêmio do evento, o Troféu Redentor. O título, de fato, merece atenção. Manas é uma produção elegante, com elenco em sintonia e roteiro que foge do óbvio. Na trama, uma garota de 13 anos sofre com a cultura machista local, em que mulheres são como posse dos homens da família, abrindo uma tenebrosa brecha para abusos. 

A história chegou às mãos de Marianna através de uma amiga, a cantora paraense Fafá de Belém, uma reconhecida ativista de direitos humanos. “A Fafá me contou sobre essa realidade que eu desconhecia, na Ilha de Marajós, onde há um alto nível de abuso intrafamiliar e de prostituição infantil, quando meninas são enviadas pela família para vender açaí e outros alimentos em balsas que atracam por lá, e são abusadas pelos tripulantes”, disse Marianna em um debate sobre o filme no festival. 

A diretora logo pensou em fazer um documentário de denúncia, mas se conteve pela dificuldade e pelo dilema ético que seria expor mulheres e crianças que passaram por esse trauma, além de levar estas pessoas a reviverem uma situação delicada, sobre a qual não se fala na região. “Fizemos um filme respeitoso com quem nos contou essas histórias. O cinema comunica o indizível”, disse Mariana, que complementou ao final: “Temos que encarar questões difíceis para buscar soluções.”

A produção traz um elenco jovem estreante e conta também com a atriz Dira Paes. Ela vive uma policial federal, personagem inspirada em um delegado e na ativista irmã Marie Henriquieta. “O filme traz um recorte, da Ilha dos Marajós, mas o abuso infantil é um problema mundial, que precisa ser combatido pela população e pelo estado”, disse a atriz no evento. Manas estreia no circuito nacional no início de 2025.

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