No Festival de Cannes de 2024, o diretor Yorgos Lanthimos e a estrela Emma Stone já chegaram vitoriosos antes mesmo de competirem com o longa Tipos de Gentileza — isso porque eram centro das atenções e haviam acabado encerrar a divulgação mundial do fantástico Pobres Criaturas, que rendeu à atriz uma segunda estatueta do Oscar. Na Riviera Francesa, porém, nenhum dos dois foi o representante do filme a ganhar uma Palma de Ouro, honra que parou nas mãos de um dos maiores “rouba cena” de Hollywood: Jesse Plemons, considerado o melhor ator da edição nos olhos do júri presidido por Greta Gerwig. Em cartaz no Brasil desde quinta-feira, 22 de agosto, a comédia obscura atesta o apelo magnético do americano e coroa sua ascensão na indústria.
Nascido em Dallas, no Texas, em 1988, Plemons começou a atuar em comerciais aos 3 anos e teve o primeiro papel de destaque aos 18, quando foi contratado para interpretar um alívio cômico no seriado Friday Night Lights, sobre um time de futebol americano de um ensino médio. Aos poucos, fez carreira como character actor, denominação americana para profissionais que costumam assumir papéis pequenos, mas excêntricos, charmosos e, principalmente, variados. Em tempos nos quais astros esbanjam modificações estéticas notáveis — das interferências cirúrgicas aos preenchimentos e anabolizantes —, a feição modesta de Plemons se torna folha em branco excepcional.
Assim, o ator consegue encarnar um sinistro fabricante de metanfetamina em Breaking Bad tão bem quanto interpreta o personagem mais dócil do drama Ataque dos Cães, que o rendeu a primeira e até então única indicação ao Oscar. Na antologia Tipos de Gentileza, vive três personagens diferentes em três histórias de 50 minutos cada: um homem submisso cuja vida é inteiramente planejada e controlada por um empresário abastado; um marido paranoico que suspeita do retorno de sua esposa após um sumiço de meses e um membro hedonista de uma seita dedicada a encontrar uma mulher capaz de ressuscitar os mortos. Sem transformações estapafúrdias, foge da mesmice com elegância e jamais sai do tom peculiar do longa, comédia absurda de humor seco e imagens macabras. A admiração pelo desempenho não parou no júri de Cannes e impressionou também Lanthimos, que já o acrescentou à lista de queridinhos. No momento, o par e Stone já filmam novo enredo, Bugonia, sobre uma possível invasão alienígena no planeta Terra.
Nos bastidores, o ator conta com outro trunfo: a esposa Kirsten Dunst, que conheceu nas filmagens da série Fargo em 2015. Alheios ao frenesi midiático de Hollywood, o casal foca em atuações competentes e adora contracenar. Em Guerra Civil, por exemplo, foi Dunst que sugeriu que o marido interpretasse um fanático nacionalista amedrontador que ocupa meros sete minutos de tela do resultado, mas é uma das figuras mais memoráveis do longa. É também a química deles que ancora muito do peso emocional de Ataque dos Cães, que utiliza o casal para representar o desenvolvimento trágico de um romance genuíno em meio às mazelas do velho oeste americano. Em entrevista à revista americana Marie Claire, Dunst explicou: “Nos apaixonamos primeiro em um set, criativamente. Penso que sempre retomaremos essa origem sem que interfira em nossa vida pessoal”.
Além de Bugonia, o ator retornará à televisão em breve com Zero Day, minissérie da Netflix estrelada por Robert De Niro que abordará a proliferação de teorias da conspiração no mundo contemporâneo. Sem data de estreia, a trama acompanhará De Niro como um ex-presidente atarefado de investigar uma crise global em formação com a ajuda de seu assistente pessoal, interpretado por Plemons. Dado o leque expansivo do ator, difícil prever o que esperar de sua próxima atuação — além da excelência.
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