Bradley Cooper, o galã clássico que virou camaleão cômico em Hollywood
Em pontas e papéis coadjuvantes, como o guaxinim Rocket em 'Guardiões da Galáxia', ator prova poder de impactar, para além do tempo de tela
Bradley Cooper cresceu em Hollywood como um dos grandes galãs de sua geração, seja em comédias românticas como Idas e Vindas do Amor, em filmes premiados feito O Lado Bom da Vida, em duetos apaixonados com Lady Gaga ou como herói de ação. Na nova fase de sua carreira — que agora equilibra com o ofício de cineasta —, porém, ele está mais inventivo do que nunca, e não vê problema algum em sair dos holofotes para dar vida total a um guaxinim, por exemplo. É o que faz em Guardiões da Galáxia 3, em cartaz nos cinemas, em que novamente oferece sua voz ao guaxinim Rocket, desta vez mais protagonista do que nunca.
A maior importância do personagem, no entanto, não impediu que o ator novamente se abstivesse da maioria das tarefas de divulgação: desta vez, Bradley participou apenas da première oficial e de uma exibição à imprensa, mas raramente concede entrevistas adicionais em nome de qualquer título da Marvel. Pelo contrário, ele se divorcia o quanto possível do peculiar animal falante, oferecendo ao personagem a oportunidade de ser visto mais como figura narrativa do que como ator famoso.
Essa é a atitude que, segundo o palavreado de Hollywood, um character actor tomaria. Para a indústria de lá, o character actor é aquele profissional cênico responsável por trazer à vida diversos personagens excêntricos, caracterizados por certos tiques e atitudes, e, geralmente, coadjuvantes. Cruzar o limiar entre estes papéis e o protagonismo é uma tarefa para poucos — a atriz Judy Greer, de De Repente 30 e Vestida Para Casar, por exemplo, é conhecida como a “amiga” de múltiplas mocinhas de comédias românticas, mas nunca liderou uma própria. Bradley, por sua vez, está enfrentando o desafio de cabeça — e vencendo.
Quando não está trabalhando em seus próprios filmes, os quais protagoniza, Cooper aproveita para fazer pontas e papéis de apoio que nada remetem ao seu cacife de galã. Em Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes, ele aparece como Marlamin, um ser mágico de altura diminuta, para brevemente discutir a dissolução de seu casamento com a bárbara Holga (Michelle Rodriguez). A piada é efetiva e rápida: o ator não passa mais que minutos na tela.
A participação chega pouco mais de um ano após seu papel em Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson, filme no qual interpreta uma versão ensandecida do produtor Jon Peters, ex de Barbra Streisand. Com um corte de cabelo apropriado à época (1973) e um figurino para combinar, ele corre pelas ruas de Los Angeles e ataca carros com tacos de golfe. Até mesmo seu último protagonista, o golpista Stanton Carlisle de Beco do Pesadelo é um desvio ao caminho tradicional de um astro: imoral e trágico, seu personagem trilha uma narrativa absolutamente despida de esperança.
O futuro próximo assinala para a interpretação de Cooper como o célebre compositor Leonard Bernstein, responsável por composições icônicas como a trilha de Amor, Sublime Amor. A performance estará no filme Maestro, dirigido pelo próprio ator, que se banhou em próteses para encarnar o artista na terceira idade. Seu único outro projeto em andamento promete um retorno às raízes glamourosas com o personagem Frank Bullitt, originado por Steve Mcqueen no thriller político Bullitt, de 1968. De qualquer jeito, em meio a mocinhos perfeitos e plastificados, não há ação ou comédia romântica que tire Bradley Cooper do posto de um dos atores mais interessantes, arriscados e imprevisíveis da atualidade.