Para trazer o mundinho cor-de-rosa à vida em Barbie, a diretora e roteirista Greta Gerwig não se baseou somente nas diversas versões da boneca criadas ao longo das últimas seis décadas: mais de 30 clássicos do cinema, incluindo vários musicais, serviram de inspiração para a construção do filme, conforme Greta revelou ao portal Letterboxd. Algumas referências são gerais, influenciando no visual colorido do longa — como Duas Garotas Românticas (1967) e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) –, enquanto outras, reproduzidas em cena, são verdadeiras homenagens ao cinema. Confira os principais títulos da lista da cineasta que foram traduzidos em momentos de Barbie:
Cuidado! O texto a seguir pode conter spoilers pontuais do live-action
O Mágico de Oz (1939)
Nada de sapatinhos vermelhos como os de Dorothy para a Barbie: o estimado musical de fantasia inspirou Greta no que diz respeito ao cenário “autenticamente artificial”. A diretora reproduziu em seu filme as paisagens pintadas à mão, do céu azul do mais celeste às montanhas distantes, como o desenho da Cidade Esmeralda que figura ao fundo do caminho percorrido pelos personagens do clássico. Destaque para a “Pink Brick Road”, ou estrada de tijolos rosa, percorrida por Barbie e Ken na viagem rumo ao mundo humano, em referência à Yellow Brick Road, a estrada dos tijolos amarelos de O Mágico de Oz (1939).
Cantando na Chuva (1952)
Filme favorito da cineasta, o musical de 1952 foi celebrado com uma referência pontual e evidente: há a reprodução de um número de ballet dos sonhos de Cyd Charisse e Gene Kelly, em escadas de fundo rosa — “uma das coisas mais incríveis”, na descrição de Greta. É, de fato, uma belíssima construção onírica, que, em Barbie, inspira uma divertida sequência de balé entre os Ken.
2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968)
Revelada logo no primeiro teaser de Barbie, essa referência intrigou o público ávido por cinema — e adiantou o recado de que Greta não estava para brincadeira. A cena, que abre o filme, resume a história de origem da boneca com uma narração sarcástica de Helen Mirren. Diante de uma Barbie gigante e gloriosa (em sua versão icônica de maiô listrado), um grupo de garotinhas destroem suas bonecas “bebês”, cheias de raiva e determinação, como que representando a evolução para um novo estágio da evolução humana — assim como os primatas encenam na marcante obra de Stanley Kubrick de 1968.
Os Embalos de Sábado à Noite (1977)
“Sempre tive a sensação de que este deveria ser um filme com uma trilha sonora incrível”, argumentou Greta para explicar a influência da música disco setentista. “Os Embalos de Sábado à Noite (1977) é um filme movido pela música, mas não um musical. Acho que somos metade de um musical”, completou. Decerto, Barbie não falha na missão: também na porção inicial do filme, há uma sequência deslumbrante de uma noite de dança, com coreografia entre Barbies e Kens e muito brilho. A música-tema do longa, aliás, é Dance the Night, interpretada por Dua Lipa. Nas palavras de Greta, a artista é primorosa em criar “hits de disco trágicos modernos” — a música é alegre, mas a composição transmite certa tristeza, o que reflete o humor existencialista da Barbie em uma das partes mais comentadas do trailer.
O Show de Truman (1998)
Título mais moderno da lista da diretora, aparece com sutileza nas primeiras cenas do longa, quando Barbie, sua rotina perfeita e seu mundinho cor-de-rosa são apresentados ao público como se assistíssemos a um reality-show de uma vida ideal, onde nada de ruim jamais acontece. Greta justificou a inclusão de O Show de Truman (1998) na seleção por ter conversado com o diretor Peter Weir logo antes do início das gravações. O cineasta deu dicas sobre seu processo de filmagem e aconselhou que não cometesse um erro dele: o longa foi filmado ao ar livre, mas com luzes artificiais para obter um efeito de estúdio, e por isso acabaram passando o maior calor.