‘Asteroid City’: uma viagem cômica às paranoias americanas da Guerra Fria
O diretor Wes Anderson lança seu olhar cômico sobre os anos 1950 valendo-se de um elenco cheio de estrelas
Numa pequena cidade desértica do sudoeste americano, em 1955, um grupo de jovens prodígios se reúne para uma convenção que marca o aniversário da queda de um meteorito na região. Reunidos no observatório astronômico local, os pequenos gênios, suas famílias e outros convidados acabam presenciando um evento sem precedentes (e que estragaria prazer revelar em detalhes aqui), o que leva o Exército americano a colocar a cidade sob lockdown. Batizada de Asteroid City, título do curioso filme de Wes Anderson que chega aos cinemas na quinta-feira 10, a cidade é um resumo das paranoias americanas do pós-guerra. A fotografia colorida, simétrica e inconfundível de Anderson fornece a moldura perfeita para o que se desenrola ali: conspirações ligadas a alienígenas, operações de acobertamento militar e cogumelos nucleares no meio do nada.
Asteroid City
Accidentally Wes Anderson
As inquietações daqueles estranhos anos 1950, quando os americanos se dividiam entre a euforia da corrida espacial e a histeria com a Guerra Fria, é temática recorrente nas telas. Mas Anderson, claro, passeia por ela à sua maneira singular. Asteroid City é uma ficção científica com pé na comédia, conduzida por lances metalinguísticos e narrativas entrelaçadas. A cidade-título, na prática, não existe: o que vemos ali, filmado em uma paleta de tons pastel e câmeras inquietas, é na verdade uma peça de teatro fictícia do dramaturgo Conrad Earp (Edward Norton), criada para um programa de televisão conduzido por um apresentador pomposo vivido por Bryan Cranston. Ou seja: na prática, o longa é uma peça dentro de outra peça, dentro de uma produção televisiva. Cada qual com um estilo de dramaturgia próprio (a peça e o programa são em preto e branco), e conflitos quase independentes interpretados de maneira propositalmente teatral por um elenco estrelado.
Tudo soa deveras confuso — e é. Mas os fãs do diretor de A Crônica Francesa e O Grande Hotel Budapeste sabem que o barato de seus filmes vem de outra fonte: a estilização original, o humor nonsense — e a presença maciça de rostos do primeiro time de Hollywood, que atuam visivelmente com prazer especial nas produções de Anderson, de Tom Hanks a Adrien Brody, passando por Scarlett Johansson e Margot Robbie. No eixo central da trama, Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) é um viúvo e fotógrafo de guerra que passa semanas escondendo a morte da esposa dos filhos. Na cidadezinha, ele se envolve com a atriz Midge Campbell (Johansson), tão perdida na vida quanto ele. No vaivém da narrativa ao redor de ambos, há imaginação para dar e vender.
Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2023, edição nº 2853
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