O frenesi em torno de Barbie, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 20, vem sendo construído há certo tempo. A curiosidade sobre a trama do live-action começou a borbulhar quando as primeiras pistas foram reveladas: fotos que mostravam a protagonista loira, vivida por Margot Robbie, e seu parceiro Ken, interpretado por Ryan Gosling, patinando pela orla de Santa Mônica, em Los Angeles, em trajes neon. Desde então, a expectativa ganhou contornos de obsessão, alimentada pelo marketing fortíssimo da Mattel e da Warner. Nas redes sociais, não se fala de outra coisa. Teorias foram levantadas e acessórios rosa-choque adquiridos. Por fim, chegou a hora da verdade: Barbie é tudo isso, mesmo? VEJA já assistiu ao filme e destaca os pontos que confirmam que, sim, a boneca mais famosa do mundo cumpriu o que havia prometido — sem grandes spoilers.
Ryan Gosling brilha, e faz de Ken muito mais que um acessório
Enquanto Margot dá um show na pele de Barbie — como já se suspeitava –, Ryan Gosling não fica nem um pouco atrás em sua interpretação do boneco Ken. Anunciado como grande alívio cômico desde os primeiros materiais promocionais — o slogan do filme é “Ela é tudo. Ele é só o Ken.” –, o personagem é, de fato, divertidíssimo em toda sua glória de macho com ego ferido por, no mundo cor-de-rosa dos brinquedos, não ser nada além de mero acessório para sua ilustre companheira. Gosling é uma grata surpresa. O ator consegue injetar carisma e muito humor na figuração do estereótipo do “loiro padrão” superficial, e desperta empatia até nos piores momentos de Ken — que ganha sua própria jornada paralela de autodescoberta. No fim das contas, Ken não é só Ken.
Barbie no divã: a sagaz autoironia da Mattel
Durante as últimas semanas, informações inéditas sobre o enredo de Barbie vinham apontando para uma das principais tônicas do filme: seu caráter de autocrítica, tanto no que diz respeito à imagem controversa da boneca ao longo dos anos, quanto sobre sua própria empresa criadora, a Mattel. Margot Robbie, que é também produtora do longa, revelou que tiveram de convencer a companhia da importância do mea-culpa — ou outro alguém apontaria esse dedo em determinado momento. Ainda assim, a negociação deve ter sido delicada: durante as gravações, o presidente da Mattel foi pessoalmente até o set de filmagem para reclamar de uma cena que não estaria alinhada com a marca, mas foi convencido a mantê-la. O receio certamente não foi à toa: não se tratam de uma ou duas piadas. O filme é recheado de referências às opiniões negativas sobre a boneca, e ainda faz sátira descarada do maquinário capitalista, reproduzindo a sede da Mattel e uma turma de engravatados chefiados por um caricato CEO, bancado por Will Ferrell. Nem as polêmicas fiscais que envolveram Ruth Handler, a mãe da Barbie, foram poupadas pelo texto esperto de Greta Gerwig e Noah Baumbach. Dizer que há algo de revolucionário nas provocações talvez seja exagero — mas não há como negar que a capacidade de Barbie de rir de si mesma é ponto saboroso do roteiro.
O detalhismo encantador da “Barbielândia”
No mundo de plástico construído pela Mattel para a Barbie, os detalhes sempre foram cruciais — das roupinhas modeladas por estilistas de verdade até sua deslumbrante Casa dos Sonhos que, modelo após modelo, seguia as últimas tendências da arquitetura. O cuidado não poderia ter sido diferente com o cenário cinematográfico apelidado de “Barbielândia”. As primeiras cenas do filme, que apresentam a luxuosa casa de bonecas da protagonista e a vizinhança ao seu redor, exaltam cada um desses detalhes encantadores. A premissa da diretora Greta Gerwig e da equipe de design de produção do filme era fugir do realismo. Tudo se parece, de fato, com brinquedos feitos de plástico. No mundo da Barbie, não existe água, nem comida de verdade — e Margot encena a brincadeira lúdica com perfeição. É também muito interessante a forma como o roteiro consegue apresentar diferentes versões da Barbie que foram lançadas ao longo de mais de 60 anos de história — inclusive alguns modelos que foram descontinuados e não são de conhecimento geral. O resultado é nostalgia pura. Em um vídeo feito para a revista americana Architectural Digest, Margot e a equipe esmiúçam como foi o processo de criação do mundinho cor-de-rosa: