Prova Brasil 2019: tivemos avanços?
Nesta série de posts que começa hoje, compartilho com os leitores reflexões sobre os resultados da Prova Brasil, divulgados recentemente pelo MEC.
Se analisarmos testes internacionais como o Pisa, o TIMMS ou o PIRLS, poderemos observar que avanços dentro de um mesmo país ao longo do tempo costumam ser raros e modestos. Quando abruptos, normalmente refletem flutuações temporárias ou esforços bem-sucedidos de reformas educativas. Mas, em geral, essas flutuações são raras. Isto se dá, especialmente nos países da OCDE e nos países asiáticos, por uma razão principal: os sistemas educativos desses países já se encontram num patamar relativamente elevado e estável. Melhorar exige investimentos e esforços gigantescos. Já os países que melhoram no Pisa, como é o caso do Brasil, são países que se situam muito abaixo da média dos países da OCDE, e que, portanto, têm espaço para melhorar.
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Clique e AssineDa mesma forma que no passado nos acostumamos com a inflação, nos acostumamos também com a ideia de que o normal é esperar aumentos na Prova Brasil a cada ano. Isso também se deve, em parte, à distorção causada pelo IDEB, um indicador que mistura nota com fluxo escolar e dá essa ilusão de melhoria. Um estudo da consultoria Idados demonstra que o IDEB embute uma informação de baixa qualidade, pelo fato de misturar dois indicadores.
O avanço do Brasil nas séries iniciais em Matemática entre 2005 e 2019 foi de 45,3 pontos. Nas séries finais foi de 25,6 pontos. E no ensino médio, foi praticamente inexistente até 2017. Nesta última rodada, houve um avanço de 9 pontos. Recomendo a quem estiver interessado em dados mais detalhados e específicos a leitura do relatório preparado pela consultoria IDados.
A trajetória dos avanços nas séries iniciais começa a perder fôlego – nas últimas duas rodadas o crescimento vem se reduzindo. A trajetória nas séries finais continua estável, mas com um nível de avanço muito baixo quando comparado com o avanço das séries iniciais.
Casos de melhoria significativa e continuada – que são poucos – sugerem que podem ser feitas melhorias num nível (séries iniciais ou finais) sem repercussão no outro. Em outras palavras: é possível melhorar muito nas séries iniciais sem que isso afete o desempenho das séries finais. E é possível o inverso: melhorar as séries finais sem melhorar as iniciais. Mas, no ritmo atual, o Brasil levará pelo menos 40 anos para atingir o atual nível de desempenho dos países da OCDE.
Quanto ao “avanço” do ensino médio, possivelmente trata-se de um ruído, pois nada do que é conhecido justificaria um avanço relativamente grande (10 pontos, 20% de um desvio padrão, ocorrendo ao mesmo tempo em mais de 20 Estados). Ademais, no ENEM de 2019 não houve qualquer alteração em relação aos resultados de anos anteriores. Portanto, a hipótese mais plausível é a de que esse aumento não passa de um ruído – raro, mas possível de acontecer em exames desta natureza. Entre as hipóteses mais robustas: esta é a 2ª rodada de aplicação da Prova Brasil para o universo dos alunos, e é possível que ainda haja flutuações na amostra. O resto, pelo menos até aqui, não passa de especulação.