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Prova Brasil 2015: os desafios do ensino privado

Em termos absolutos, em termos de avanço e em termos de comparação com outros países, os resultados da educação privada são medíocres.

Por Da Redação Atualizado em 30 jul 2020, 21h54 - Publicado em 9 set 2016, 16h30
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  • Este é o primeiro post de uma série que publico neste espaço sobre os resultados da Prova Brasil 2015, divulgados recentemente pelo MEC. Veja aqui a lista completa de posts

    Estudar no ensino privado faz diferença. Os resultados absolutos e relativos são superiores aos dos alunos das escolas públicas. Já foi sobejamente comprovado que alunos de mesmo nível socioeconômico se saem melhor quando estudam em escolas privadas. Também na comparação com os alunos das escolas federais o setor privado sai em vantagem – pois os custos são mais baixos. Para não deixar dúvida no leitor: a média dos alunos do 9o ano da escola pública na Prova Brasil 2015 de Matemática foi de 246 pontos, equivalente à média dos alunos de 5o ano da rede privada – que foi de 243 pontos.

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    O leitor poderia concluir do parágrafo acima que a escola privada brasileira é ótima. Não se apresse nessa conclusão: em termos absolutos, em termos de avanço e em termos de comparação com outros países, os resultados da educação privada são medíocres.

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    O assunto merece atenção de toda a sociedade e especialmente dos pais: a maior parcela das elites brasileiras é formada nas escolas privadas. E essa elite está se tornando cada vez mais medíocre. Aqui a parcela de culpa que pode ser imputada ao governo é relativamente baixa. Trata-se de um mal causado pelas próprias mãos.  Vamos aos dados.

    Um quadro desolador …

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    O quadro 1 apresenta os resultados de Matemática da rede privada em 2015.

    Quadro 1

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    Resultados de Matemática da rede privada 2015

    5o ano

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    9o ano

    E. M.

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    Média dos estados

    243

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    292

    306

    Estado com menor nota

    222

    266

    279

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    Estado com maior nota

    273

    313

    329

    Diferença entre maior e menor nota

    51

    47

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    50

    Média necessária para competir com a OCDE

    295

    355

    400

              

    A média refere-se ao conjunto dos Estados, o mínimo e o máximo referem-se às UFs com melhor e pior nota. O quadro permite duas observações importantes. Primeiro: há um ganho de 48 pontos entre as séries iniciais e finais, e de 38 pontos entre o 9o ano e o Ensino Médio. Segundo, a dispersão entre estados é menor no 9o ano, e no todo é bem inferior à dispersão da rede pública, embora a dispersão do nível socioeconômico dos alunos da rede pública seja muito maior.  O quadro também mostra que a diferença do desempenho da rede privada entre diferentes estados é muito grande – o que não deveria ocorrer tendo em vista o perfil da clientela.

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    A última linha do quadro apresenta a média necessária para que as elites brasileiras se tornassem competitivas com os países industrializados: a nota média das escolas privadas, cuja maioria dos alunos pertence à elite cultural e socioeconômica brasileira, deveria ser de pelo menos 295, 355 e 400 pontos respectivamente no 5o, 9o e 3o ano do Ensino Médio. Não é por acaso que os 5% melhores alunos brasileiros no Pisa se compararam com a média dos alunos dos países da OCDE.

    … e que tem evoluído pouco

    Se a foto é ruim, o filme é pior, conforme ilustrado no Quadro 2. Os aumentos têm sido pífios e, no Ensino Médio, são negativos em Matemática.

    Quadro 2

    Evolução das notas da Prova Brasil entre 2005 e 2015

       

    5O ANO

    9O ANO

    Ensino Médio

    REDE

    ANO

    LP

    MAT

    LP

    MAT

    LP

    MAT

    Municipais

    2005

    165

    175

    223

    228

     –  –

    2015

    204

    216

    247

    250

     –  –

    Variação

    39

    41

    24

    22

     –  –

    Estaduais

    2005

    172

    181

    227

    233

    249

    260

    2015

    211

    223

    248

    251

    261

    260

    Variação

    39

    42

    21

    18

    12

    0

    Privada

    2005

    211

    226

    275

    294

    307

    333

    2015

    235

    244

    286

    295

    307

    310

    Variação

    24

    18

    11

    1

    0

    -23

     

    Os riscos para a sociedade

    Quer estejam na escola pública ou privada, as elites intelectuais e socioeconômicas fazem diferença no desenvolvimento econômico do país. Numa série de artigos sobre QI que publiquei recentemente abordei esse tema (para saber mais, acesse aqui). Para resumir: conforme demonstrado em estudo produzido pelo IDados, centro de estudos ligado ao Instituto Alfa e Beto, quanto mais alto o nível de desempenho das elites – os 5% melhores alunos de um país em provas como o Pisa– maior a taxa de crescimento econômico. Isso é cada vez mais realidade na economia baseada no conhecimento.

    Por que tanta mediocridade no setor privado?

    A mediocridade dos resultados do setor privado não pode ser debitada ao setor público: ela é feita pelas próprias mãos. As causas são várias. Muitas delas têm a ver com as mudanças na estrutura das famílias e dos valores da sociedade – mas isso não vale como desculpa, pois essas mudanças também ocorrem em outros países, onde suas elites continuam indo bem e até mesmo melhorando seu desempenho escolar.  Muitas delas têm a ver com a importação, pela escola privada, de maus hábitos da escola pública – as escolas privadas foram invadidas pelo pedagogismo e pelas mesmas ideologias que infestam o setor público. Grande parte delas tem a ver com os pais, que ou delegam à escola mais do que ela pode assumir ou protegem seus filhos contra os riscos de se esforçar e dar duro na vida. Do ponto de vista macro, a gigantesca desigualdade social contribui para aumentar a preguiça das elites – é muito fácil concorrer num país de desigualdades tão extremas.

    Há erros do governo? Sim. Um deles é o ENEM e o sistema de vestibular, que precisa ser urgentemente reformado, junto com todo o Ensino Médio, para devolver aos jovens a alegria de estudar e aprofundar-se no que gostam e são bons. Não que vai ser moleza entrar na USP ou no IME, mas que vai ser diferente – como é nos países desenvolvidos. Segundo é preciso aliviar os currículos, especialmente nas séries finais do Ensino Fundamental, deixando tempo e espaço para os jovens se encontrarem na vida. Terceiro é preciso abrir espaço para instituições inovadoras na formação de professores e formas alternativas de acesso à carreira docente, já que não é possível limpar o entulho ideológico existente na legislação, nas instituições reguladoras e nas universidades.

    Tudo isso sugere que o caminho para corrigir os rumos não é fácil e não depende apenas das escolas. Mas elas têm um enorme espaço para melhorar e um importante papel a desempenhar. O primeiro passo é decidir se elas, de fato, querem operar como escolas que devem ser e cultivar o esforço e a excelência acadêmica como sua marca.

    A juventude, sem dúvida, saberá responder ao desafio.

    *Para obter os gráficos e dados levantados pelo IDados para esta série de posts, entre em contato com comunicacao@alfaebeto.org.br

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