Anualmente, cerca de 200 mil universitários concluem cursos de licenciaturas no Brasil, de acordo com o levantamento anual do Censo do Ensino Superior do Ministério da Educação. As evidências indicam, com segurança, que pouquíssimos desses recém-formados têm impacto positivo do desempenho escolar de seus alunos. Basta ver a evolução dos resultados agregados do país e das escolas para ter certeza desse fato.
Esse registro visa despertar um debate sobre o tema mais essencial para melhorar a educação: os professores fazem a diferença no desempenho dos alunos, as pesquisas confirmam isso. Não existe computador ou outra tecnologia que os substitua. Porém, estamos colocando nas salas de aula professores sem o perfil e formação adequados para realizar sua difícil função.
Os conhecimentos hoje existentes na literatura acadêmica não nos permitem prever quem será um bom professor. Todavia, permitem identificar, nos primeiros anos de exercício profissional, quem será um professor medíocre, bom ou excelente. Ou seja: não sabemos definir a priori, com base na formação ou em características pessoais, quem será um bom mestre.
No máximo, podemos identificar algumas características necessárias para isso. Porém, em poucos anos de experiência em sala de aula, com base no desempenho dos alunos, somos capazes de identificar e prever se o indivíduo será um professor que agrega conhecimentos aos seus alunos. Tudo indica que a profissão requer habilidades que nem todos conseguem adquirir e usar de maneira proficiente, entretanto, estas podem ser adquiridas nos primeiros anos de exercício profissional.
As pesquisas desenvolvidas até o momento também sugerem uma interação entre professor e escola que afeta especialmente os professores com alta capacidade de desempenho: estes serão afetados pelas condições de trabalho na escola. Mesmo o profissional de alto desempenho poderá não conseguir agregar muito valor aos seus alunos se a escola não oferecer condições adequadas de trabalho – especialmente no que se refere à disciplina.
Com base nas evidências, traço alguns tópicos essenciais sobre professores que fazem diferença e sobre suas práticas em sala de aula:
- Bons professores, por definição, são aqueles cujos alunos aprendem mais.
- Bons professores podem conseguir resultados de até 68% a mais com seus alunos. Isso significa aproximadamente dois terços de um ano letivo. Ao longo de dez anos, em tese, isso poderia representar quase sete anos a mais de aprendizagem.
- Um bom professor não se mede por anos de formação, diplomas, capacitação, remuneração e sexo. Embora seja certo que os salários não incidem sobre o desempenho dos alunos, este ajuda a criar atratividade para a carreira, atraindo os melhores para a docência.
- Bons professores dominam o conteúdo que desejam ensinar – e dispõem de ferramentas pedagógicas para ensiná-lo.
- Expectativas negativas em relação aos alunos terão efeito negativo. Se o professor não acredita neles, dificilmente os alunos terão bom desempenho.
- Bons professores utilizam determinadas estratégias de ensino que comprovadamente facilitam a aprendizagem. Essas estratégias são comuns a diferentes níveis de ensino e disciplinas e incluem: preparar bem a aula, não perder tempo na aula, criar boas expectativas sobre alunos, criar um clima positivo, manejar a disciplina em sala de aula para criar um clima propício à aprendizagem etc.
- Bons professores procuram lecionar nas “melhores escolas”, ou seja, nas que produzem melhores resultados. Como os resultados das escolas não dependem só dos professores, é possível que eles tivessem mais impacto se lecionassem nas escolas com alunos de pior desempenho.
- Mesmo um bom professor tem grandes variações de desempenho de ano a ano – embora, em geral, seus alunos tenham melhores notas. Grande parte dessa variação depende do clima da escola e da composição da turma.
- O trabalho dos diretores impacta na atuação do professor. O diretor que consegue assegurar um bom clima de trabalho e motivar seus professores consegue que a escola seja mais eficaz.
A evidência vai mais além e mostra que nada disso funciona se não for atendido um critério preliminar: os jovens que se destinam ao magistério, nos países mais avançados, são recrutados dentre os 50% melhores do ensino médio, e, nos países de melhor desempenho, entre os 5 a 30% melhores. No Brasil, acostumamos a ver o contrário acontecer.
Convido os leitores a continuar esse debate sobre professores enviando seus comentários. No livro Educação Baseada em Evidências – Como saber o que Funciona em Educação (Instituto Alfa e Beto, 2015) há mais um capítulo sobre o tema, analisando as estratégias eficazes de formação de professores, e outro sobre as vantagens e desvantagens do pagamento de bônus para docentes. Para baixar, clique aqui.